Resumo

Os contextos de lazer se configuram como espaços-tempos importantes para compreender os modos de vivência dos lazeres juvenis. Dentre as manifestações presentes entre as juventudes, a socialização, a busca pelo prazer e por novas sensações são elementos intrínsecos aos lazeres destas parcelas populacionais. Além disso, estudos, tanto qualitativos como quantitativos, destacam a prevalência do consumo de substâncias psicoativas entre os jovens, evidenciando cenários de uso de drogas no lazer, principalmente no período noturno nos fins de semana, trazendo também à tona discussões sobre a relação destes usos com as vivências sociais fomentadas pelas sociedades contemporâneas nas quais o consumo de bens e sensações aparece de forma marcante. O lazer hedônico aparece como reflexo da sociedade de consumo que centra constantemente a busca pela gratificação, integração e formação de identidade que vêm de encontro às constantes insatisfações e incertezas sociais. O aumento do consumo de substâncias psicoativas pode ser mais uma consequência desta sociedade, uma forma de fuga das responsabilidades e ou até produção de sentido de existência. Objetivamos, a partir deste estudo, compreender os modos de consumo das sociedades contemporâneas que influenciam as culturas juvenis em direção ao uso de drogas nos espaços-tempos de lazer. Tendo como eixo o conceito de tribos descrito por Maffesoli (2006), apresentamos discussões, a partir de pesquisa teórico-conceitual, sobre a emergência de formas de socialização juvenil refletidas em uma valorização do sentimento de pertencimento que, em consonância com uma dimensão estética voltada para a experiência de sensações positivas, pode se materializar muitas vezes em itinerários de lazer, nos quais aparecem frequentemente consumos de substâncias psicoativas lícitas e ilícitas. Acreditamos que os modos de uso presentes nas culturas juvenis contemporâneas extrapolam as visões maniqueístas fortemente enraizadas em nossa sociedade e ressaltam a busca por experiências aprazíveis, construção das identidades, divertimento, socialização e pertencimento. Entretanto, tais usos sofrem os reflexos moralistas construídos ao longo dos anos a partir de evidências científicas compreendidas equivocamente, por interesses políticos e econômicos, pela influência da mídia, dentre outros fatores. Este cenário tem gerado implicações estigmatizantes que encobrem o entendimento sobre as motivações individuais de uso, sobretudo quando falamos do público juvenil. Compreender as inter-relações entre juventude, lazer e drogas é importante, pois contribui para a construção de um olhar não maniqueísta sobre as manifestações de lazer das juventudes e heterogeneidade deste público. As compreensões sobre os modos de lazer das culturas juvenis contemporâneas são fundamentais no trato de ações preventivas, principalmente ao pensarmos em subsidiar políticas de prevenção ao uso de substâncias psicoativas nos contextos de lazer distanciadas dos ranços moralizantes e mais próximas da realidade concreta