Resumo

A preocupação com valores que transcendem a realidade observável ainda é pouco prestigiada nos diferentes espaços sociais, mas alguns já começam a trilhar esse caminho. Para nos aproximarmos desse espaço optamos por seguir a trajetória do lazer, que pode ser vista por diferentes perspectivas: divertimento, opção e aprimoramento pessoal. As pesquisas contemporâneas sobre lazer e espiritualidade não aprofundam seus estudos e vêm examinando superficialmente a espiritualidade como um meio de descoberta interior. Caminhadas (trekking) na natureza, realizadas com fins turísticos e religiosos se apresentam como condutoras do bem-estar espiritual. O objetivo desse estudo se configurou em investigar os sentidos da aventura no lazer de caminhantes-peregrinos em depoimentos colhidos em sites da Internet. Todos percorreram o Caminho do Sol, localizado em São Paulo. Utilizamos o referencial de Análise do Discurso (AD) de Orlandi (1996) e as marcas lingüísticas identificadas foram: o autoconhecimento, a solidariedade, a superação e a transcendência. Tais marcas parecem conduzir ao que Jung (1977) identifica como processo de individuação e o que Campbell (1999) identifica como jornada do herói. Todos os depoimentos revelaram estados estéticos, lúdicos, que fluem (CSIKSZENTMIHALYI, 1994) diante da descoberta da interioridade, uma transitoriedade do homem sensível (físico) ao homem espiritualizado (moral), reassumindo sua integralidade, sua humanidade. Mobilizados pela harmonia entre prazer e imaginação, esses sujeitos, caminhantes-peregrinos na natureza, desencadeiam em si um processo de bem-estar-espiritual. O tempo de lazer e o espaço da natureza foram facilitadores desse processo e do crescimento do espírito humano (LEE, 1964) desses caminhantes.

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