Resumo

Este trabalho, de cunho bibliográfico e documental, apoia-se nos referenciais da história cultural e objetiva mapear e analisar representações (CHARTIER, 1991) que permearam os múltiplos usos da bicicleta, assim como o surgimento do ciclismo em dois periódicos especializados em Educação Física e Esportes no Brasil, entre as décadas de 1930 e 1940: as revistas Educação Physica e Sport Illustrado. O período assinalado como recorte temporal, décadas de 1930 e 1940, é aquele de circulação de nossas fontes principais. Este trabalho objetiva, ainda, tecer reflexões acerca de uma nova concepção e relação com a natureza que emerge nas cidades brasileiras neste período, concepção essa que incrementa os usos e frutos de um artefato da cultura material: a bicicleta. Cabe assinalar que, desde fins do século XIX, em um Brasil urbano, vão tomando corpo certas ideias acerca dos benefícios de uma vida ao ar livre e de uma valorização dos elementos da natureza como o sol, o ar, a água. Em um contexto urbano, valores como a velocidade, impunham-se como signos do que era moderno, assim como certo deslumbramento pelas máquinas e pelo instantâneo da fotografia. Não tardam as alusões à prática regular de exercícios físicos ao ar livre, a inserção de divertimentos em parques públicos ou privados, em clubes e associações de bairro. Esse seria o ambiente propício para o acolhimento de novas práticas corporais e de novos artefatos que possibilitavam essa relação mais íntima com a natureza em momentos de divertimento, de trabalho e de competição. A bicicleta e o ciclismo expressam essas novas relações que, no Brasil, ocorrem de modo mais nítido nas primeiras décadas do século XX e, sem dúvida, não de forma homogênea sendo, portanto, necessário não estabelecer generalizações. Nesse contexto é interessante pensar como que a bicicleta se relacionava com a urbanização e modernização do Brasil. Trabalhos como os de MORAES (2014) e SCHETINO (2007), ajudam-nos a pensar as relações que as bicicletas estabeleceram em cidades brasileiras como Porto Alegre e Rio de Janeiro. Mapear e refletir acerca da maneira que as Revistas representavam as temáticas bicicleta e ciclismo, poderá nos fornecer elementos para dialogar de que forma este artefato – a bicicleta – e seus usos impactaram nas cidades brasileiras e no imaginário popular, visto que esta máquina movida à força humana carregava símbolos diversos.

Referências
CHARTIER, Roger. O mundo como representação. In: Revista de Estudos Avançados. vol. 5 no.11 São Paulo Jan./Apr. 1991, p 173-191.
MORAES, Ronaldo Dreissig de. O ciclismo nos clubes de Porto Alegre/RS: entre o passado e o presente. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, Rio Grande do Sul, 2014.
SCHETINO, André Maia. Pedalando na Modernidade – a bicicleta e o ciclismo no Rio de Janeiro e em Paris na transição dos séculos XIX-XX. Dissertação (Mestrado em História Comparada) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, IFCS, Rio de janeiro, 2007.
Fonte de financiamento: Este trabalho é financiado pelo CNPq, através de bolsa de Iniciação Científica - PIBIC-2018-2019.