Resumo


A entrada na reforma (aposentadoria) representa a construção de uma nova
realidade, com poucos modelos de referência, e, deste modo, sob o risco de se
transformar num vazio social. As pessoas, perante esta situação, são
frequentemente obrigadas a fazerem face a uma das maiores reconversões das
suas existências, com uma alteração radical das suas práticas e rotinas. Tal impõese, considerando que normalmente estão de boa saúde, com todas as suas
capacidades físicas e mentais, que dispõem de uma esperança de vida
considerável e, fundamentalmente, que necessitam de encher o seu dia-a-dia
com actividades repletas de sentidos para as suas vidas. Este estudo pretendeu
ser, assim, um testemunho da realidade sociocultural de um grupo de pessoas
reformadas e em que procurámos compreender, através do olhar das ciências
sociais, os sentidos que permeiam as suas práticas quotidianas, nomeadamente
o papel das actividades físicas na construção de um tempo novo após o
abandono do trabalho. Utilizámos uma metodologia de cariz etnográfico que
se baseou no reconhecimento de que a compreensão do "outro", e dos sentidos
das suas práticas, exige uma participação na realidade estudada, interagindo e
experimentando o modo de vida quotidiano dos sujeitos investigados.
Salientamos como principais instrumentos a observação participante e a
entrevista semi-estruturada e, como terreno da pesquisa, o contexto de uma
universidade da terceira idade. A análise interpretativa permitiu-nos concluir
que os sujeitos não se reconhecem na tradicional representação da categoria
de reformados, pelo que o seu quotidiano apresenta rupturas com muitos dos
comportamentos até aqui esperados nesta etapa da vida. Há uma evidente
reflexividade a presidir às suas acções, enquanto forma de determinar e inovar
os seus modos de vida. Tal reflexividade evidencia-se na adopção de novas
práticas, dentro das quais se inserem as actividades físicas, que testemunham o
sentido da liberdade na construção de um tempo mais pessoal, o sentido da
sociabilidade, renovando redes de interacção que em muitos casos tinham sido
destruídas pela cessação do trabalho, e o sentido da procura de um corpo ideal,
um corpo valorizado socialmente: jovem, saudável e activo. Deste modo,
salientámos a função estruturante das actividades físicas na construção de
sentidos para este tempo novo de reforma

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