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O bordão “seria cômico se não fosse trágico” cabe aqui como uma luva…

Acabamos de ler no “GloboEsporte.com” a notícia de que o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, anunciou nesta 2ª feira, 27/08, a assinatura de um decreto que obriga as escolas do Distrito Federal a instituírem uma disciplina focada no tema “Copa do Mundo”. O objetivo do projeto, anunciado por ocasião do encontro com representantes da FIFA, em Brasília, seria “estimular nos jovens a consciência da importância do torneio para o país, formando assim possíveis futuros voluntários na Copa 2014”.

Tal iniciativa se revela, além de oportunista - a ocasião do anúncio do projeto fala por si só -, equivocada, traduzindo a compreensão da política educacional por parte das autoridades educacionais do governo do Distrito Federal.

Desde 1996 a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (Lei 9394) abre aos sistemas educacionais brasileiros, a possibilidade de arquitetarem seus projetos pedagógicos em torno do princípio da “transversalidade” do processo de conhecimento, visando a superação, com esse proceder, da conservadora lógica “disciplinar”, hegemônica nos currículos das escolas brasileiras.

Iniciativas bem sucedidas de projetos de escolarização centrados na lógica transdisciplinar já são conhecidas por aqueles que circulam no campo da educação básica em nosso país e, boa parte dessas experiências tem a Educação Física como sua área estruturante.

Vejam o caso dos Jogos Panamericanos recentemente realizado no Rio de Janeiro: Presenciamos escolas que, por um determinado tempo pedagógico, levaram seus alunos a se envolverem com questões afetas aos campos da história, da geografia, da cultura - e de uma sua dimensão, a cultura corporal - além de outros, a partir dos países dos atletas que para o Rio de Janeiro se dirigiram a fim de participarem das competições ali instaladas.

A riqueza de tal abordagem curricular pode ser observada na imensa gama de enfoques realizados pelos alunos e professores dos Jogos Panamericanos, ao suplantarem a prática corrente que vincula o entendimento do “conhecimento esportivo” quase que exclusivamente ao “saber fazer”, possibilitando elevá-lo ao patamar da compreensão do significado e o sentido do esporte na cultura contemporânea.

Tal processo de reflexão sobre o Esporte é fundamental para que as falcatruas e mazelas do processo organizativo dos Jogos não passem desapercebidas entre aqueles que buscam forjar nos dias de hoje a possibilidade da plena cidadania no dia de amanhã.

… Ainda há tempo, senhor governador, para revogar o motivo da explicitação do seu desconhecimento da estrutura da educação escolar brasileira mas, infelizmente para o senhor, não o suficiente para impedir o testemunho sobre a sua forma açodada de olhar para as escolas do Distrito Federal.

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