Resumo

O cenário da realização dos megaeventos esportivos já, e a serem, encenados em solo brasileiro, de 2007 até 2016, evidência a emergência de um modelo de planejamento de cidade pautado na racionalidade econômica e na gestão empresarial do espaço urbano. A lógica mercantil de organização dos megaeventos esportivos e a sua utilização como dispositivo econômico do capital de criação de novos nichos e demandas de serviços voltados à contenção da crise estrutural do capitalismo, revelam-se expressão dos interesses dos detentores do capital financeiro - empresários dos setores da construção civil e de serviços, por exemplo. Por sua vez, como acontece na história social e política brasileira, o preço a ser pago para o prevalecer de tal lógica de desenvolvimento urbano é debitado na conta dos setores desfavorecidos da população. Isso porque a organização desses eventos se vale da lógica da Gentrificação de setores da cidade, vale dizer, a incumbência de organizar o evento carrega em si a justificativa ideal para o "saneamento socioeconômico" do local, dele decorrendo a remoção desses espaços dos segmentos sociais ali assentados em épocas onde tais espaços urbanos não possuíam o valor econômico a eles hoje atribuídos. Muitos são os relatos de violações dos direitos da população local das cidades sedes de eventos esportivos de grande porte, como a Copa/FIFA se configura, e muitos são os grupos/movimentos sociais articulados a partir da temática desse evento debatendo, questionando e colocando em evidência a violação dos direitos sociais dessa população. Foi essa organização, suas características e ações, o objeto de nosso estudo. Assim, o objetivo deste trabalho consistiu no mapeamento dos movimentos sociais que vêm fazendo o embate político contra aqueles responsáveis pelas ações contrárias aos interesses dos setores sociais desprivilegiados, discutindo os aspectos políticos, econômicos e principalmente sociais decorrentes da realização da Copa FIFA 2014 nas 12 cidades-sedes escolhidas. Foi possível constatar a existência de entidades e movimentos sociais aglutinadores dos reclamos de parcela da população prejudicada com os impactos nocivos a ela, dando voz e organizando a resistência através de mecanismos próprios e caros à luta popular.

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