Resumo

1 INTRODUÇÃO
A pesquisa toma como objeto de estudo o Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo (DEF-SP), órgão criado pelo médico Arthur Neiva (1880-1943) em 1931 para a gestão da educação física. Dalben (2009), Gomes e Dalben (2011), Gnecco (2005) e Mastrorosa (2003) ocuparam-se em investigar aspectos particulares da história do DEF-SP, o qual se manteve em funcionamento até 1954. A presente pesquisa histórica procura se aprofundar no momento de criação do DEF-SP, tendo por objetivos: a) analisar as motivações políticas, econômicas e culturais para a criação DEF-SP; b) identificar a posição assumida pelos sujeitos que participaram de sua criação.

2 METODOLOGIA 
A pesquisa empregou como fontes: a) documentos e correspondências preservadas no Fundo Arthur Neiva do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas; b) livros das Coleções Especiais e Obras Raras da Biblioteca Central Cesar Lattes da Universidade Estadual de Campinas; c) e legislação referente ao DEF-SP disponíveis no sítio eletrônico da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O projeto do que viria a se tornar o decreto de criação do DEF-SP foi assinado por nomes da elite político-econômica de São Paulo ligados ao universo esportivo: Antonio Bayma, Benjamin Alves Ribeiro, Américo R. Netto, Erasmo Teixeira de Assumpção, Francisco Figueira de Mello, Jorge M. Rodrigo (?) e Glauco de Ma (?). Para a publicação do decreto, o projeto sofreu modificações, sendo uma delas o acréscimo da justificativa de que os esporte aperfeiçoariam a raça, combateriam o alcoolismo e habituariam à disciplina (SÃO PAULO, 1931). A argumentação coincide com os ideais esportivos defendidos por Neiva em artigos que havia publicado anos antes (NEIVA, 1929). A escrita dos artigos foi motivada em resposta a polêmica iniciada por Carlos Sussekind de Mendonça (1921), ensaísta que criticou a prática esportiva por supostamente deseducar a mocidade ao afastá-la dos livros. O seu principal opositor em São Paulo foi justamente Neiva (GOMES, DALBEN, 2011), quem argumentava que o esporte deveria se tornar um elemento a ser cultuado pela elite dirigente, por conta de sua presumida capacidade de formar personalidades fortes, viris e disciplinadas (NEIVA, 1929). Outra questão cara para Neiva (1931) era a necessidade de afirmar São Paulo na vanguarda esportiva do país. Desde de a década de 1910, havia uma acirrada disputa esportiva entre Rio de Janeiro e São Paulo, especialmente no futebol. Clubes e federações cariocas e paulistas trataram diversos embates a respeito dos rumos dessa modalidade esportiva (GOMES, PINHEIRO, 2015). Neiva (1931) defendia a intervenção do estado na área esportiva para promover o seu pleno desenvolvimento e garantir a hegemonia paulista.

4 CONCLUSÃO
A prática esportiva não foi introduzida no país como um projeto idealizado pelo governo ou pelas elites econômicas. Surgiu como uma manifestação cultural característica da vida urbana e como elemento do ideal de vida associativa trazida pelos imigrantes (SEVCENKO, 1992). Em muitas partidas informais de futebol era bastante comum o consumo de bebidas alcoólicas, o que gerava, frequentemente, uma visão negativa por parte da imprensa, da polícia e da classe intelectual. A criação do DEF-SP visou inicialmente atender um projeto eugenista de moralização da prática esportiva e da própria população. O debate sobre os prejuízos trazidos com a prática esportiva teve, na verdade, como mote de fundo definir a melhor estratégia para se educar o corpo da população (GOIS JUNIOR, MELO, SOARES, 2015). A nova estrutura oficial criada poderia, assim, controlar toda a prática esportiva eventualmente avaliada como nociva. Por outro lado, esperava-se que o esporte contribuísse para a formação de uma nova cultura entre a elite, sendo, a partir de então, a prática realizada em clubes e federações regulamentada e respaldada por uma órgão estatal. Neiva conceberia o DEF-SP ainda como uma forma de intervenção do estado na área esportiva para promover o esporte paulista de competição e alçá-lo como referência no país.

5 REFERÊNCIAS
DALBEN, A. Educação do corpo e vida ao ar livre: natureza e educação física em São Paulo (1930-1945). Dissertação (Mestrado em Educação Física), Universidade Estadual de Campinas, 2009.
GNECCO, J. R. Reforma Universitária e a USP: a integração da Escola de Educação Física em 1969. Tese (Doutorado em Educação), Universidade de São Paulo, 2005.
GÓIS JR, E.; SOARES, A. J. G.; MELO, V. A. Para a construção da nação: debates brasileiros sobre educação do corpo na década de 1930. Educação e sociedade, v. 36, p. 343-360, 2015.
GOMES, A. C. V.; DALBEN, A. O controle médico-esportivo no Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo: aproximações entre esporte e medicina nas décadas de 1930 e 1940. História, Ciência, Saúde - Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 18, n. 2, p. 321-336, jun. 2011.
GOMES, E. S.; PINHEIRO, C. L. M. (Orgs.). Olhares para a profissionalização do futebol. Rio de Janeiro: Multifoco, 2015.
MASTROROSA, A. Departamento de Educação Física, Escola Superior de Educação Física e Associação dos Professores de Educação Física: o ordenamento da Educação Física no Estado de São Paulo no início da década de 1930. Dissertação (Mestrado em Educação), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2003.
SEVCENKO, N. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
Fontes:
BAYMA, A. S.; NETTO, A. R.; RIBEIRO, B. A.; ASSUMPÇÃO JR, E. T.; MELLO, F. F.; RODRIGO, J. M.; M(?), G. Decreto. 10 de janeiro de 1931.
NEIVA, A. Correspondência com Benedito Montenegro, Bahia, 13 de agosto de 1931.
NEIVA, A. Daqui e de longe... São Paulo: Melhoramentos, 1929.
MENDONÇA, C. S. O sport está deseducando a mocidade brasileira. Rio de Janeiro: Empreza Brasil Editora, 1921.
SÃO PAULO (Estado). Decreto no. 4.855, de 27 de janeiro de 1931. Cria o Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo, 1931.

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