Resumo

O termo esportivização pode ser encontrado na literatura da Educação Física no mínimo com quatro sentidos (GONZÁLEZ, 2014). Nesta pesquisa, o termo será utilizado no sentido de transformação de uma prática corporal originada em contexto não competitivo em esporte de rendimento, a partir da incorporação dos seus códigos, tais como: definição de regras oficiais e institucionalização.No processo de esportivização das lutas e artes marciais, uma das principais implicações é a tendência em priorizar a competição em detrimento da tradição e dos seus aspectos socioculturais, a exemplo do Taekwondo que passou por uma descaracterização frente a esse processo (RIOS, 2005). A esportivização pode ainda conduzir a uma crescente mercantilização e profissionalização dos agentes envolvidos (GONZÁLEZ, 2014) com uma determinada modalidade de luta, favorecendo atletas de elite em detrimento dos grupos marginalizados que historicamente a praticam. Por outro lado, a esportivização é um fenômeno que, segundo González (2014), pode trazer benefícios em termos de sistematização e reconhecimento. Nesta pesquisa, propõe-se discutir sobre a esportivização da Luta Marajoara, uma luta tradicional da ilha de Marajó, Norte do Brasil. Um processo que teve início com a organização/padronização das suas regras e técnicas em eventos esportivos locais, e que ganhou força nos últimos anos com a sua institucionalização, a partir do advento da Liga Brasil de Luta Marajoara e da gênese da Federação Paraense de Luta Marajoara (FPLM), cujo objetivo é oferecer organização estrutural à referida luta para sua “ascensão à condição de arte marcial, propriamente dita, sob óticas desportivo-competitivas contemporâneas” (ENGELHARD NETO; ABRAHIN; MOCARZEL, 2021, p. 54). Para alcançar seu objetivo, a FPLM tem elaborado propostas que incentivam a esportivização da Luta Marajoara, como a universalização das regras, a certificação dos instrutores, o envolvimento na realização de eventos esportivos e a graduação dos praticantes (SANTOS; ANDRADE; FREITAS, 2023). Considerando que tais propostas podem suscitar impacto tanto para a luta quanto para os lutadores, surge a seguinte pergunta: o que pensam os praticantes de Luta Marajoara sobre as propostas de esportivização da FPLM? Para responder a pergunta desta pesquisa, adotou-se como técnica para a reunião de dados a entrevista semiestruturada (MARCONDES; TEIXEIRA; OLIVEIRA, 2010). Realizou-se entrevista com sete praticantes de Luta Marajoara.

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