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Introdução

A Educação Física pode colaborar no processo da alfabetização de várias maneiras. Uma delas é através dos jogos. O jogo pode ser usado como instrumento para o desenvolvimento do processo de alfabetização da criança influenciando-a de forma positiva. A criança pode ter maior facilidade de aprendizado se a atividade for proporcionada de forma lúdica. Nas palavras de Smith (1997:17), a ludicidade é definida:

[...] como uma síntese de todo os comportamentos da criança, o mais amado e mais interessante, é o comportamento lúdico. É o que ocupa grande parte das atividades livre das crianças e mais amado porque é agradável fazer parte dele, porque da prazer, normalmente é inocente, mostra-nos o interesse da criança através da espontaneidade e criatividade e dá-nos a conhecer a sua própria personalidade.

Segundo Loudreth (1993), "O jogo é a linguagem das crianças e por vezes os brinquedos são as palavras". A análise da realidade educacional (e social) deixa evidente a necessidade do professor procurar novas formas de estimular a aprendizagem dos seus alunos, pois eis aí o sentido e a relevância de seu trabalho. Mas revela também a enorme complexidade de sua atividade, já que implica participar da formação do caráter, da personalidade, da consciência, da cidadania do educando, tendo como mediação os conhecimentos historicamente elaborados e relevantes. Além disto, este trabalho será constituído em salas com trinta, quarenta ou mais aluno, "ao mesmo tempo"; se levarmos em conta, por exemplo, as contribuições de Vygotsky (1987:89), pois, podemos perceber que a intervenção do professor não pode estar muito abaixo do desenvolvimento real do aluno, nem muito acima do potencial, o que significa um esforço hercúleo para poder atingir a zona de desenvolvimento proximal de cada um dos educandos. O professor tem um grande papel dado que trabalha com dois elementos da maior importância para espécie: as novas gerações e o conhecimento. Sua atividade envolve conceitos, imagens, a produção de valores, ideais, deveres, direitos, visão de mundo, decifração e desvelamento da realidade, projetos, propostas.

Não se trata absolutamente de uma tarefa fácil, mas, com certeza, é muito bonita! É uma das experiências mais fortes e significativas do ser humano: poder participar da formação do outro. Tudo isto pede, pois, do professor uma revisão da compreensão de sua atividade e de sua atitude profissional.

O jogo no contexto da alfabetização

O jogo contribui poderosamente no desenvolvimento global da criança , onde todos as suas dimensões estão intrinsecamente vinculadas: a inteligência, a afetividade, a motricidade e a sociabilidade são inseparáveis, sendo a afetividade o que constitui a energia necessária para a progressão psíquica, moral, intelectual e motriz da criança. O jogo é uma atividade social, pois depende de regras de convivência e de regras imaginárias que são discutidas pelas crianças, constituindo-se uma atividade de imagem e interpretação.

Portanto, para Coletivo de Autores, (1992:65,66) (brincar e jogar são sinônimos em diversas línguas) é uma invenção do homem, um ato em que será intencionalidade e curiosidade resultam num processo criativo para modificar, imaginariamente, a realidade e o presente.

Contudo, o jogo, pelas suas características pode ser reproduzido, transformado ou criado. Esta tarefa cabe aos professores (as), juntamente com seus alunos e pode ser realizada nas mais diferentes faixas etárias , bastando para tal adaptar a complexidade das solicitações e/ou propostas. Quando falamos em reproduzir um conteúdo alguns já ficam de "cabelos em pé", entendendo que tal reprodução é algo danoso ao aluno por não fazê-lo pensar, ser crítico etc. Muito pelo contrário, a reprodução dos jogos tem que ser feita, mas o aluno deve saber exatamente "por quê" o está reproduzindo. Um dos motivos deve ser pela possibilidade de se manter as tradições culturais. Quando copiamos um jogo, geralmente estamos reproduzindo uma cultura que o produziu. Um outro motivo que justifica a reprodução é a possibilidade de se perpetuar sua originalidade, ou seja, sua aplicação sem alterações: conforme foi pensado, idealizado etc. Se isto não fosse possível, muitos jogos não chegariam até nossa geração. No tocante à transformação alguns autores já se manifestaram a respeito, como por exemplo, FREIRE (1989), GALVÃO (1997) observando que, através da transformação dos jogos, os alunos podem desenvolver sua criatividade, sua cognição e, principalmente, aprender a resolver problemas. Em se tratando de alfabetização infantil e importante infantizar que a estimulação através dos jogos é importante para o desenvolvimento. Através do jogo a criança reconhece as suas potencialidades e aprende a superar seus próprios limites. Por isso, deve existir uma atitude de respeito à capacidade criadora da criança.

A formação do professor de educação física

A formação do professor de Educação Física remeter logo de partida para a questão da formação do professor. Este é um ponto básico de seriíssimas repercussões para o trabalho do educador. Trata-se, de uma questão muito complexa na medida em que envolve não só o período acadêmico, mas toda vida profissional. Mesmo no campo acadêmico, o que podemos constar historicamente é que a formação do professor tem ficado, muito a quem do ideal, evidenciando aí uma série de complicadores, como por exemplo a tão discutida relação teoria e prática, a relação entre matérias específicas do campo de formação e matérias de formação didática, etc., sem contar os cursos aligeirados e os assim chamados "cursos vagos". Um outro elemento a ser considerado ainda é a própria valorização da profissão, pois, por não enxergarem atrativos, muitos jovens de grande potencial não fazem opção pelo magistério, ou se quer cursam as disciplinas pedagógicas, não apresentando o menor interesse. A formação do professor deverá dar conta do conjunto das questões que envolve todas as atividades docentes. De imediato, podemos apontar alguns graves desafios: O efetivo trabalho com o conhecimento, implica entre outras coisas na construção e desconstrução de conhecimento, e, sobretudo, "produção de sentido". A força, o poder do professor esta, intrinsecamente, no símbolo, no signo, no conhecimento; quando este é mal formado nesse campo, seu poder esta esvaziado. Só que não se trata do conhecimento em si, enquanto acúmulo, mas o "trabalho" com este conhecimento seja qual for, em movimento, em relação, possibilitando aos sujeitos que dele se apropria à elaboração de significado e a capacitação para a intervenção; Capacidade de trabalhar a dialética humanização-desumanização não só entender de desenvolvimento humano, mas também de infância roubada de negação de direitos e oportunidades, de truncamentos nos processos educativos dos "alunos concretos" que terá ou tem. Como ofício temos de saber mais sobre aprendizagem (Vasconselos, 2003:180). Como se processa, mas também como se quebra o desenvolvimento mental, ético, emocional, identitário da infância submetida à barbárie e à exclusão (Arroyo, 2000:243). Entender os alunos como sujeitos epistêmicos ou psicológicos, mas como sujeitos humanos, sociais, culturais; Capacidade de gerir processos de mudanças, como uma das exigências para ser professor da "escola concreta" que existe e fazê-la avançar, ajudar a superar suas contradições básicas. Muitas vezes, o professor até tem uma formação em termos de propostas, de novas perspectivas de ação, todavia, não consegue articulá-las com as condições que encontra no chão da escola; Visão política de totalidade, para poder entender as complexas relações da escola com a comunidade e, em especial, com a sociedade deve haver articulação entre formação-transformação: tentar transformar, o aluno-professor pode aquilatar o peso das determinações e sentir a necessidade da teoria para dar conta de explicar o real e nele interferir. A mudança de mentalidade, como apontamos, se faz ao mesmo tempo da mudança da prática: tentar transformar a prática e analisar os resultados. A abertura inicial a uma nova concepção deve ser acompanhada de um conjunto de práticas correlatas e da reflexão sobre elas, e vice-versa. Naturalmente, estas perspectivas de formação não dispensam aquela de nível pessoal, que implica na disposição do professor para se rever, buscar, fazer uma autocrítica e se comprometer com a superação dos limites encontrados. Trata-se da bem entendida disposição de aprender a prender. Ser professor é ser eterno aprendiz: quem não tem disposição para aprender, quem acha que já sabe , não tem condições de ensinar, qual seja, de fazer o outro aprender! (Demo, 2000:85) Por esta formação, o professor busca a (re)construção da identidade pessoal, e profissional mantendo uma constante interação entre o projeto pessoal, o educativo e o social. Uma forma de avançar na autonomia é o professor deixar de ser elemento apenas de circulação e passar a ser também de produção de conhecimento (elaboração a partir da pesquisa).

Considerações finais

Na primeira infância, mais que em qualquer período subsequente, o jogo é fundamental para a vida das crianças. Na instituição escolar deve predominar o jogo educativo, isto é , o jogo como recurso pedagógico, vinculado a um projeto político pedagógico. Esta afirmativa comprova a importância do jogo na formação do professor de Educação Física, sendo que na escola de primeira infância, a importância do brinquedo na vida da criança, torna o jogo o recurso de ensino-aprendizagem mais utilizado pelos profissionais que ali trabalham.

Portanto, podemos nortear os professores que ao orientarem seus pequenos alunos atentem para o fato de que descaracterizar a importância pedagógica do brinquedo na escola é negar a própria criança; é, talvez, violentá-la naquilo que eles tem de mais precioso. Na verdade, o que a escola deve buscar não é o que a criança aprende, nesta ou naquela habilidade para saltar ou para escrever plenamente.

O processo de transformação da prática pedagógica, o essencial é a mudança de postura do educador. Neste sentido a perspectiva que defendemos do professor como sujeito de transformação aplica-se às várias dimensões da sua existência e realidade, desde a pessoal até a social mais ampla. Queremos neste momento aprofundar alguns aspectos relativos à dignidade da profissão docente. A falta de condições de trabalho, o não-reconhecimento social da tarefa educativa, a percepção da fragilidade da formação, etc. A tarefa do professor é extremamente importante e complexa: deve estar preparado para exercê-la. O trabalho coletivo constante na escola é um espaço privilegiado para isto. Somos professores não porque somos capazes de "transmitir" , ainda que com competência mas porque sabemos fazer do ensinar um constante aprender (nosso e dos educandos).

Obs. Os autores e seus e-mails: Vanessa Ferreira dos Santos (vanesantos2004@bol.com.br), Kéli Cristina da Silva (kelihidro@yahoo.com.br), Roseli Marquetti (roselimarquetti@yahoo.com.br), Claudia Maria Valente e João Paulo Parreiras (caveiradez@yahoo.com.br) e foi orientado pela Ms Ana Patrícia da Silva UERJ/UNIABEU.

Referências

  • Cícero, Rodrigues - Brincando com Sucatas, Sprint. 2004 pp. 22-24.
  • Coletivo de Autores - Metodologia do Ensino de Educação Física - Editora: Cortez, São Paulo, 1992. Páginas 65 -66.
  • Freire, João Batista; Educação de Corpo Inteiro - Teoria e Prática de Educação Física; Editora: Scipione,1994. Páginas 115 -119.
  • Guiseline, M.A. Tarefas Motoras para Criança em idade Pré- Escolar. São Paulo CRR Brasileiro, Ed. (1987: 8-10).
  • Silva, Ana Patrícia da; SILVA, Jaqueline Luzia. Alfabetização e Educação Física: Caminhando Juntas no Rumo a Cidadania. Revista do Mestrado da Universidade Federal do Sergipe (UFS). V.8 2004-no prelo.
  • Vasconcellos, Celso dos Santos - Para onde vai o Professor? Resgate do Professor como sujeito de Transformação 1956, São Paulo: Libertad, 2003. Páginas 47, 178 à 182.