Integra

Amigos:

Quinta-feira passada fui com a Zeza (minha esposa) na matinê das 16h00 assistir umas dessas comédias românticas “água com açúcar” (acreditem, curtimos isso e não perdemos um desenho animado em “3D”!).

Embora meus cabelos brancos revelassem facilmente que se tratava de um “aposentado” ;), não foi difícil observar alguns olhares de “estranhamento” de algumas pessoas enquanto transitando no shopping center (local do cinema), na fila para adquirir o ingresso e depois para comprar pipoca (afinal, cinema, especialmente matinê, sem pipoca, não é cinema!).

Isso me levou a pensar sobre o preconceito ainda existente em nossa sociedade em relação ao lazer, que sobrevaloriza o trabalho e as obrigações, especialmente quando esse lazer está “fora dos padrões”.

Essa experiência também me levou a recordar de um trabalho que fiz como consultor da Federação Nacional das AABBs (FENABB), no período de 2000 a 2007.

Não sei se é do seu conhecimento, mas a FENABB representa a maior rede de clubes sociais recreativos do planeta sob uma mesma orientação, com mais de 1200 sedes e mais de um milhão de associados. Vale à pena navegar pelo seu site: www.fenabb.org.br.

Pelo seu estatuto, o presidente, vice-presidente e o tesoureiro de uma AABB deve ser funcionário do Banco do Brasil (da ativa) ou já ter sido funcionário (aposentado). A partir do início da década de 1990, com a proibição do aporte de recursos procedentes diretamente do Banco do Brasil, os clubes passaram, gradativamente, a absorver como associados não somente funcionários do banco (que com o crescente uso da tecnologia viu seus quadros se reduzirem), mas também a comunidade como um todo. É seguro dizer que hoje as AABBs em todo país tem mais sócios da comunidade que funcionários do próprio banco. Graças um longo trabalho realizado pela diretoria da FENABB junto à diretoria do Banco do Brasil, foi possível obter o reconhecimento estratégico que esses ambientes de lazer tem na comunidade onde estão inseridos e hoje, de acordo com um conjunto de normas, é possível ter um funcionário do banco da ativa, como presidente de clube, a liberação de horas para tal. Grande conquista!

Ocorre que essas pessoas sempre foram educadas e “cobradas” no seu dia-a-dia de trabalho pelo seu “negócio” e ao tornarem-se presidentes dos clubes gerenciam o “ócio” de pessoas, ou seja, uma “incompatibilidade paradigmática” a ser superada…

Bem, vocês vão me perguntar “o que tem a ver o `estranhamento` relatado no início com a AABB”?

Nesses sete anos de trabalho, capacitamos mais de mil presidentes de AABBs de todos os estados da federação, com um curso de três dias de duração. No encerramento do seu primeiro dia (habitualmente entre as 15h00 e as 18h00), sem “aviso prévio”, constava da programação um item denominado “vivência de uma experiência lúdica”. Através de uma pesquisa prévia, era escolhido um filme que estava passando num dos cinemas da cidade e um ônibus levava todo grupo ao local.

As reações foram as mais diversas possíveis: da negação (‘sou obrigado a ir ao cinema?!?”) passando pela celebração (pelo menos para uma dezena de pessoas eu fui o “responsável” por levá-los a um cinema pela primeira vez na vida!) ou até mesmo três deles, que no escuro, passaram mal… Somente uma unanimidade: todos avaliaram a experiência como muito positiva!

Sei que daria para discutir esse tema/reação de maneira profunda, mas cabe aqui pelo menos uma observação: temos um longo caminho a trilhar para educar as pessoas para o lazer, sem preconceitos.

         Forte abraço.

Bramante

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