Integra

Introdução
Vários estudos nos mostram o valor das brincadeiras em aspectos físicos, emocionais e sociais. A escolha deste tema originou-se em virtude da verificação das grandes alterações e transformações que ocorrem na vida das crianças da 5ª série do ensino fundamental tanto no âmbito pessoal, afetivo e escolar.
O brincar, prática muito difundida por crianças nas escolas, adquiriu neste atual momento uma expressiva relevância nas aulas de Educação Física. Percebe-se que o professor de Educação Física não a utiliza como elemento principal de seus planejamentos, o que poderia revelar a qualidade das aulas como também promover experiências prazerosas que permitiram uma maior sociabilidade e bem estar.
Dentro das indagações sobre a problemática no que dizem respeito à ansiedade que as crianças apresentam períodos que antecedem as provas, as brincadeiras relaxam e podem diminuir esse comportamento desgastante em que as crianças são submetidas.
As brincadeiras poderão ajudá-la nesta angustia, podendo ser executadas com segurança e desembaraço resgatando a identidade social no ser humano. Dessa forma este trabalho se justifica com a possibilidade de demonstrar formas de como as brincadeiras podem amenizar o grau de ansiedade do aluno da 5º série no período pré-prova, as brincadeiras podem oferecer situações que possibilitem que a criança exercite a relação entre o corpo e a mente, reduzindo assim a ansiedade.
Este trabalho verificou a possibilidade da aplicação de brincadeiras minutos antes de uma avaliação a crianças da 5ª série do ensino fundamental, na intenção de diminuir o grau de ansiedade dos mesmos.
Conceito de ansiedade
Considera-se atualmente a ansiedade uma resposta natural ao devido avanço social e profissional inserido no meio em que se encontram as pessoas. Normalmente a ansiedade é desencadeada em situações onde a exposição pessoal é o principal foco deste sentimento por se sentirem pressionadas ou em risco perante um perigo real ou um medo vago, diante de possíveis fracassos ou situação que envolva um alto valor sentimental.
Durante o ano letivo existem períodos em que a criança se encontra perante certos desafios e até mesmas barreiras que para ela às vezes parece impossível de ser ultrapassada, estes desafios levam o nome de exames ou provas, e geralmente acabam colocando a criança em possível alteração do seu sistema fisiológico e comportamental, onde seu aproveitamento acaba sendo bem abaixo de sua capacidade. Sendo colocada nesta situação à criança apresenta sintomas de um sentimento chamado de ANSIEDADE, onde este a afetará tanto a parte física como emocional.
A ansiedade para as crianças é um sentimento desagradável, por não se conhecerem tão bem como o adulto à criança não consegue descrever este sentimento ou mesmo identificá-lo, tanto como exagerado ou anormal, não percebendo que existe algo de errado consigo mesma.
"A ansiedade é definida como uma emoção caracterizada por sentimentos de previsão de perigo, tensão e aflição e pela vigilância do sistema nervoso simpático. A intensidade do medo é proporcional à magnitude do perigo. A intensidade de uma ansiedade tem a probabilidade de ser maior do que o medo objetivo se for conhecido". (DAVIDOFF, 1983,p.440--441).
Pode-se afirmar que o estado de ansiedade está diretamente ligado ao medo, sendo assim ansiedade é caracterizada por um sentimento vago sem fundamento lógico, já o medo é uma reação do organismo que visa manter sua integridade física ou mental diante de um perigo real.
"A ansiedade é um sinal de alarme dirigido ao EU, serve para advertir a presença de um perigo, de um impulso ou idéia inadmissível, para que o EU possa responder com medidas adequadas ou mobilizar suas defesas, a ansiedade não é propriamente um fenômeno patológico, mas algo inerente à condição humana, até um determinado ponto, a ansiedade é um sinal de vitalidade e serve para despertar e motivar o organismo". (BRAGHIROLLI,1990, p. 194).
Desta forma, convém salientar que a ansiedade não é um fator negativo para o ser humano, porém quando exposto a uma situação de desconhecimento ou de difícil controle, a mesma pode tomar grandes proporções levando as reações imprevisíveis.
Ansiedade na escola
Segundo Lipp, (2000), "a passagem da 4ª para a 5ª série gera várias mudanças bruscas no cotidiano escolar dos alunos".
Para os alunos do ensino fundamental o grau de ansiedade é muito mais intenso em razão do despreparo das grandes transformações de conhecimentos emocionais, sociais que eles se submeterão. A matemática já não se resume em operações básicas, a tabuada do 2, 5 e 7 são coisas do passado. Na lista de chamada vê seu nome ser substituído por um número.
O professor que até no final do ano era apenas um, e normalmente era chamado de "tia", neste momento corta-se o vinculo emocional que o aluno tem com o professor, dois meses depois se depara com uma diversidade de disciplinas e professores, trabalhos escolares e avaliações.
Das matérias básicas como português, matemática, estudos sociais e ciências, lecionados por um único professor, por sua vez até por dois anos consecutivos, se vê cercado por uma grade de horários confusos, composta por até dez disciplinas. De repente o aluno se depara diante de uma escola com hábitos diferentes voltada para o desenvolvimento do raciocínio lógico, tendo que expor suas idéias e leituras em sala de aula.
As dificuldades residem principalmente no campo do relacionamento interpessoal, causando insônia, irritabilidade e alteração de conduta prejudicando o aprendizado.
A ansiedade pode afetar a aprendizagem em diferentes estágios. Os alunos com altos níveis de ansiedade são especialmente propensos a executar mal itens de testes difíceis ou ambíguos (que tem a possibilidade de ser mal lidos ou mal interpretados). Elas se saem particularmente mal em situações pressionadas, estressantes, tais como exames importantes. Quando as matérias são livremente organizadas e há necessidades de aprender decorando ou memorizando, o aluno altamente ansioso tende a se desempenhar pior do que os menos ansiosos. (DAVIDOFF, 1983, p. 444).
O trauma e o prejuízo que uma criança experimenta durante uma reprovação podem alcançar níveis inimagináveis, este fato se torna muito mais marcante na fase transicional da 4ª para 5ª serie, onde o novo pode não ser tão bom assim quanto ela imaginava. Seu despreparo emocional associado com uma carga horária vasta e a professores por vezes pouco compreensivos e exigentes, notadamente em disciplinas ditas difíceis, acabam por desenvolver graus de ansiedade tão elevados que a criança não consegue ter um bom desempenho.
O clímax de tal situação pode ser constatado momentos antes ou durante os períodos avaliativos, onde o motivo "prova" provoca muita ansiedade, que é piorada pela postura de alguns educadores.
Brincar
Segundo Maluf, (2003) etimologicamente, "brincar (lúdico) vem de brinco + ar". Então sobre essa dimensão brincar constitui-se numa atividade de ligação ou vinculo com algo em si mesmo e com o outro, em suma o autor afirma que brincar é um ato de estar descobrindo, e recriando.
O brincar transcende a todos os níveis da vida de uma criança, esta atividade lúdica engaja as emoções, o intelecto, a cultura e o comportamento, a brincadeira é mais que uma atividade sem conseqüência, a criança não apenas se diverte, mas recria e interpreta o mundo em que vive. Brincando a criança aprende, sendo assim cada vez mais os educadores recomendam que as brincadeiras ocupem um lugar de destaque no programa escolar desde a infância, para auxiliar no trabalho do professor, brincar não é ficar sem fazer nada brincando a criança vive, cresce exercita sua capacidade física e aprende tudo sobre seu mundo. Brincar é a forma mais perfeita para perceber a criança e estimular o que ela precisa aprender e se desenvolver.
Brincar sempre foi e sempre será uma atividade espontânea e muito prazerosa, para o ser humano, de qualquer faixa etária, classe social ou condição econômica.
"Brincar é tão importante quanto estudar, ajuda a esquecer momentos difíceis, quando brincamos conseguimos, sem muito esforço encontrar respostas a várias indagações, podemos sanar dificuldades de aprendizagem, bem como interagirmos com nossos semelhantes, desenvolve os músculos, a sociabilidade, a coordenação motora e além de tudo deixa qualquer criança feliz" (MALUF, 2003, p. 19).
O brincar proporciona a aquisição de novos conhecimentos, desenvolve habilidades de forma natural e agradável. Ele é uma das necessidades básicas da criança, é essencial para um bom desenvolvimento motor, social, emocional e cognitivo.
O jogo simbólico implica a representação de um objeto por outro, a atribuição de novos significados a vários objetos, a sugestão de temas, como: "Vamos dizer que isso é um cavalinho?" (apontando para um pedaço de madeira) ou a adoção de papéis, como "sou o pai", "sou o médico", "sou a mãe" etc. Podemos observar que crianças brincam imitando barulhos de canhão e roncos de aviões com apenas pedaços de madeira e soldados de plásticos. Ainda, uma menina dá grandes instruções à sua amiga invisível para que não molhe nem suje os sapatos em um lamaçal.
De acordo com Kishimoto, (2000), "a brincadeira do faz-de-conta é essencial no mundo da criança, pois ela imagina a representação dos papeis evidente na situação como assumir fantasias e sonhos, idéias e ações adquiridas no seu mundo social, incluindo a família e escola, ao brincar de faz-de-conta a criança está aprendendo a criar símbolos tais como: casa, móvel ou cenários para as brincadeiras".
Metodologia do estudo
Esta pesquisa de cunho qualitativo teve os dados coletados por meio de um questionário relacionando o grau de ansiedade que os alunos sentem durante a realização de uma prova, com a finalidade de avaliar se as brincadeiras podem ou não suaviza-lo, para 150 alunos com faixa etária entre 10 a 12 anos de ambos os sexos, da 5ª série do ensino fundamental em um Colégio Estadual no município de Curitiba - PR, em Outubro de 2005.
A princípio foi explicado e detalhado aos alunos o procedimento da pesquisa, posteriormente realizou-se em duas (2) turmas da 5ªsérie, uma série de brincadeiras com o intuito de avaliar o grau de ansiedade dos alunos antes da prova, sendo este grupo denominado piloto, logo após o término da atividade os alunos realizaram a prova de matemática normalmente, ao final da mesma foram dispostos questionários para a mesma turma e para mais duas (2) outras que não realizaram as brincadeiras chamadas de grupo amostra, mais também passaram pelo mesmo procedimento avaliativo de matemática no mesmo dia, podendo, contudo verificar se houve diminuição nos níveis de ansiedade e conseqüentemente melhora no desempenho escolar.
Resultados
Um dos resultados mais interessantes encontrados nesta pesquisa foi à comprovação do descaso dos alunos com relação aos estudos, onde uma grande parte deles relatou não estudarem, ou seja, não se prepararem para as avaliações.
Com relação à hipótese apresentada no início desta pesquisa, pode-se concluir que a utilização da brincadeira como mecanismo para a diminuição do nível de ansiedade minutos antes da avaliação, contribui sim para a redução do mesmo, portanto auxilia no intuito de acalmar os alunos para um melhor aproveitamento e rendimento no sistema de avaliação.
Considerações finais
Atualmente, a ciência da psicologia tornou-se elemento essencial na formação do ser humano, e quando esta é voltada ao âmbito escolar, busca acrescentar valores, qualidade de vida e auxílio no processo ensino-aprendizagem.
Na fase específica deste estudo, (5ª série) ocorrem várias transformações com as crianças, sua imaturidade emocional associada a uma carga horária extensa, e por vezes professores, despreparados, pouco compreensivos e demasiadamente exigentes, acabam por elevar os graus de ansiedade da criança, que conseqüentemente não conseguirá obter um bom desempenho escolar.
Esse estudo comprovou que o professor de Educação Física pode e deve desempenhar um papel importante nesse processo, mas é de suma importância que ele tenha conhecimento de que a ansiedade pode sim afetar o desempenho escolar do aluno, ou seja, ele precisa saber em que nível de ansiedade o aluno se encontra, para auxiliá-lo e não prejudicá-lo ainda mais, podendo assim adequar momentos que facilitarão essa redução e, por conseguinte, proporcionar um melhor desempenho escolar.
Obs. Os autores, Gisely Rodrigues Brouco (prof_gy@yahoo.com.br) é do Centro Universitário Campos de Andrade - UNIANDRADE e a professora Magda Gobetti da Silva (jair_bila@yahoo.com.br)

Referências

Braghirolli, E. M. Psicologia geral, Porto Alegre: Vozes, 1990.
Davidoff, L. L. Introdução à psicologia, São Paulo: Makron do Brasil, 1983.
Kishimoto, T.M. Jogo, brinquedo e a educação, São Paulo: Cortez, 2000.
Lipp, M.E.N. Crianças estressadas: causas sintomas e soluções, Campinas: Papirus, 2000.
Maluf, A.C.M. Brincar, prazer e aprendizagem, Petrópolis: Vozes, 2003.