Resumo

A prática do futebol por mulheres historicamente é matizada por episódios de infiltrações, transgressões e conquistas. Embora as mulheres tenham estado presentes na sociogênese do futebol, protagonizando inserções tanto como espectadoras quanto na condição de praticantes, o espaço e a visibilidade destinados ao futebol feminino evidenciam a inocuidade dessa prática como campo de atuação profissional. Os esportes modernos foram construídos culturalmente para os homens, exigindo a necessidade de as mulheres, assim como em outras instâncias sociais, conquistarem seu espaço e buscar o seu reconhecimento, ainda não atingido no “país do futebol”. A aproximação das mulheres com a prática do futebol no Brasil remete ao início da década de 1910, época marcada pelo movimento denominado de higienista, que sustentava, entre outros princípios, um modelo higienizado de mulher, mãe asséptica, que se conduziria de acordo com os padrões da “medicina moderna” (MOURA, 2003). Aliado a esse referencial, conferia-se às mulheres – especificamente às das camadas sociais mais altas – um papel social vinculado à filantropia e ao assistencialismo, que esteve diretamente ligado à participação das mulheres como protagonistas do futebol, quando em 1913 organizaram um jogo beneficente para angariar recursos para a construção do Hospital da Cruz Vermelha. Esse jogo fora anunciado como um jogo de futebol de mulheres, quando de fato foi realizado por uma equipe de homens travestidos de mulheres, como descreveu Moura,para quem o episódio não desautoriza o entendimento de que, nesse evento, as mulheres da elite paulistana estavam no papel de protagonistas, pois constituíram-se nas mentoras da ideia e de sua operacionalização. Moura nos lembra que a prática esportiva naquela época restringia-se às mulheres da elite do país, não se estendendo às camadas populares.

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