Resumo

A trapaça heroica está entre as memórias mais persistentes da Copa do Mundo de Futebol de 1986. Enquanto o brilhante segundo gol de Diego Maradona contra a Inglaterra foi apelidada por jornalistas desportivos de todos os lugares de “o gol do século”, o seu primeiro, de mão, é diferentemente lembrado pelos jornalistas e outros escritores em Londres e em Buenos Aires. A trapaça de Maradona, testemunhada por milhões em todo o mundo, não foi observada nem pelo árbitro tunisiano e tampouco por seus assistentes durante o jogo. Na corrida dos jogos fúnebres de Pátroclo descrita na Ilíada, há até mesmo uma trapaça divina: a deusa Atena intervém, em resposta à oração de Odisseu, lançando Ajax, rosto ao chão, nos restos imundos dos sacrifícios de touros para impedi-lo de ganhar e assim, dar a vitória a Odisseu (Ilíada 23,768-784). Se os deuses trapaceiam para ajudar aos seus humanos favoritos, pode a própria trapaça ser totalmente inaceitável, mesmo em uma ocasião solene, que homenageia um guerreiro morto? Quando Ajax percebe o papel de Atena em sua derrota e reclama com seus companheiros, eles apenas riem dele. Este artigo analisa a representação da trapaça nas artes e nas poesias gregas e romanas e conclui que a “mano de dios” de Maradona é comparativamente trivial.

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