Integra

Introdução

A Globalização e o Capitalismo são duas variáveis que modificam a todo o momento a realidade da sociedade, determinando seus padrões e homogeneizando os valores culturais a favor das grandes potências econômicas, através do consumo de massa. Todo valor adquirido sem a perda do seu próprio propicia a qualquer país um desenvolvimento sócio-econômico independente, o qual melhora substancialmente a qualidade de vida da sua população, pelo aprimoramento ou criação de novas tecnologias.

Contudo, observa-se que, principalmente nas nações subdesenvolvidas, a cópia ou repetição de hábitos e costumes prejudiciais à saúde das elites, como a ingestão de alimentos que não favorecem o equilíbrio interno das estruturas do organismo no desempenho das suas funções vitais, vem contribuindo para o aumento de obesos no meio social.

As principais redes de "fast food" (multinacionais), que se ramificam assustadoramente em nosso país, traduzem claramente a forma errada do consumo desproporcional, no que tange as necessidades nutricionais básicas para a manutenção da saúde do indivíduo, como: alimentos ricos em calorias, carboidratos simples e gorduras saturadas e trans (frituras e hambúrgueres dos mais diversos tipos, doces, sorvetes, etc).

É importante salientar que além de uma má alimentação, existem outros fatores de risco (atitudes ou predisposições às doenças coronarianas ou metabólicas), os quais podem ser delimitados de duas formas: modificáveis e não-modificáveis. As coronariopatias são distúrbios que envolvem a circulação nas coronárias e afetam a irrigação do miocárdio pelo seu estreitamento agudo ou crônico, devido ao depósito de substâncias gordurosas (placas de ateroma) na parede dessas artérias provocando isquemias e ou rupturas dos vasos.

Os aspectos fisiológicos da obesidade ao indivíduo

A obesidade é uma condição mórbida caracterizada por excesso de peso corpóreo à custa do acúmulo adiposo e está associada a várias patologias, como: diabetes, cardiopatias, problemas articulares, respiratórios, hipertensão, entre outros. Segundo (McARDLE, 1985), "é o aumento excessivo da quantidade de gordura corporal, ou excesso de armazenamento de energia no tecido adiposo" ou segundo (ACSM, 1993), "é a porcentagem de gordura corporal que aumenta o risco de doenças".

Também deve-se observar outros aspectos em relação ao certame sobre tal estudo. Primeiramente, a identificação da origem da obesidade é preponderante para descobrir as razões desse aumento de peso, isto é, se por hiperplasia (multiplicação celular), a qual torna-se muito mais difícil ser tratado e reverter ao peso ideal, pois é grande o número de receptores ávidos por gordura, mais comum na infância. Já o acúmulo adiposo do tipo hipertrófico (aumento do volume celular) é mais sensível ao tratamento e à manutenção. Em resumo, se quisermos um adulto no seu peso ideal ou sem dificuldade em mantê-lo, devemos manter as crianças magras (com peso correspondente a sua idade).

O esquema metabólico normal da glicose pode ser descrito de forma simples: a ingestão de alimentos contendo amido e carboidratos simples, seguido pela absorção intestinal da glicose, provoca o aumento da taxa de glicemia no sangue (hiperglicemia pós-alimentar).

Com isso, o pâncreas sintetiza e libera a insulina (resposta fisiológica) para que ela faça o transporte facilitado para o meio intracelular, de forma equilibrada às necessidades metabólicas do organismo. Uma vez no interior das células, ocorre a síntese de glicogênio (reserva energética do fígado e músculo), bem como sua metabolização para produção de energia, o que refletirá posteriormente em fome e assim sucessivamente.

Em consonância a esse esquema, podemos de forma análoga demonstrar o que ocorre no metabolismo da glicose em obesos.

Normalmente, nestes indivíduos observa-se uma ingestão maior de alimentos ricos em açúcares ou amido de rápida absorção intestinal, provocando uma elevação anormal da glicemia, que incita o pâncreas a sintetizar e a liberar insulina em uma quantidade acima da habitual. Deste modo, os níveis de glicose diminuem rapidamente, induzindo uma fome constante. Além disso, tanto a captação deste nutriente para a produção como para armazenamento de energia intra-celular não são suficientes para utilizar toda a glicose disponível, gerando um excesso, o qual será transformado em gordura, o que contribui para um quadro de obesidade. Com o passar do tempo, a sobrecarga constante do pâncreas provoca sua falência, o que acarretará uma diminuição da produção da insulina e, conseqüentemente, uma hiperglicemia, evoluindo para um quadro de diabetes tipo II.

Sobre o Diabetes (tipo II ou adquirida), pode-se conceituar, como uma patologia crônica que se caracteriza pelo aumento da glicose sanguínea (acima de 125mg/dl), pela deficiência da ação da insulina. A obesidade e o sedentarismo contribuem diretamente, para elevar as chances dessa doença acontecer. Porém, em muitos casos, dieta e atividade física já são suficientes para seu controle. Com tudo, os professores de educação física devem-se ter cuidados na prescrição dos exercícios e metas traçadas, para que surtam os efeitos desejados, isto é, realizar atividades aeróbicas acima de trinta minutos, permitindo assim, que a glicose entre na célula sem a necessidade da insulina baixando os níveis de açúcares no sangue. A musculação, também, é muito importante, pois aumenta a quantidade de tecido captador da glicose, devido à hipertrofia muscular.

O colesterol, que é um tipo de gordura presente no nosso organismo (200mg/dl) e nos alimentos de origem animal, bem como, em alguns industrializados se ligam as lipoproteínas, as quais determinam a sua participação na formação das placas de ateroma nas artérias. As lipoproteínas HDL, LDL são sintetizadas pelo fígado a partir da absorção de gorduras saturadas (origem animal) e insaturadas (origem vegetal e derivados de peixe) respectivamente. HDL ou "bom colesterol" tem a propriedade de remover as placas de ateroma, localizadas nas paredes dos vasos (os hepatócitos a partir da atividade física aeróbica irão sintetizar em longa escala tais lipoproteínas). Já o LDL ou "mau colesterol", que se encontra presente em altas concentrações nos indivíduos obesos e sedentários (hipercolesterolemia) propicia a incidência de coronariopatias, devido ao seu enrijecimento e obstrução progressiva dos vasos.

O triglicerídeo é um tipo de gordura presente no sangue. Pode estar aumentado quando ingerimos calorias em excesso, seja sob a forma de gordura ou açúcar, muito comum em pessoas com hipercolesterolemia, obesas, diabéticos, entre outras. Nos casos de colesterol e triglicerídeo elevado é recomendado pelos nutricionistas uma dieta rica em fibras, pois ajuda a diminuí-los, melhora a função intestinal e contribui para a retenção hídrica corporal.

A hipertensão arterial é uma patologia relacionada à alta tensão nos vasos, que pode ter sua origem, através do acúmulo de LDL nas artérias, muito comum em pessoas obesas. Esse aumento da pressão propicia o desgaste crônico das mesmas, assim como, sua possível ruptura levando ao infarto do miocárdio (coronária). Porém, essa doença é assintomática, o que requer precauções. Segundo (Carlos e Ferreira, 2000, p.69), "..., caracterizada por uma pressão sanguínea máxima (sistólica) igual ou superior a 145 - 150 mm/hg e uma pressão mínima superior a 90 - 95 mm/hg ".

Um fator de risco não -modificável, a qual tem íntima relação com a obesidade é a idade avançada. Pois, retrata uma predisposição fisiológica do organismo (maturação e envelhecimento) a ter mais suscetibilidade a contrair doenças. A arteriosclerose é uma dessas, inerente ao homem, por isso é fundamental a manutenção do peso ideal, através de uma alimentação equilibrada e evitar inércia corporal, pois o excesso de colesterol (obesidade) e o grau de arteriosclerose coexistem com muita freqüência. "... É uma afecção generalizada do organismo, devido ao endurecimento, deformação ou falta de elasticidade da parede das artérias, o que determina a má circulação do sangue." (Oliveira e Peyneau, 2000, p.12). Também, é conveniente ressaltar, que à medida que envelhecemos há uma diminuição das necessidades de energia, devido à redução da síntese hormonal da Tiroxina (T4) e da Triiodotironina (T3), responsáveis pelo aumento do metabolismo de carboidratos e das gorduras, da glândula tireóide, a qual regula à taxa metabólica basal de todas as células (corresponde a quantidade de energia necessária à manutenção das funções vitais do organismo).

Atualmente, existe uma infinidade de técnicas para mensurar ou classificar o indivíduo, como ferramenta de análise da imagem corporal (baixo peso, peso ideal, sobrepeso e obesidade), bem como, caracterizar os componentes físicos durante o crescimento, envelhecimento e treinamento. O somatotipo é uma técnica de classificação, a partir do exame da composição corporal, que permite enquadrar a pessoa em três condições diferentes: Endomorfia (representa a adiposidade relativa, a qual não é notado praticamente o relevo muscular, exemplificado em um obeso, devido ao aparecimento de um grande volume abdominal, pescoço curto e ombros quadrados), Mesomorfia (representa a robustez e a magnitude do músculo-esquelético relativa) e Ectomorfia (representa a linearidade das formas ou considerado como componente de magreza).

O IMC (índice de massa corporal), por sua simplicidade tem com objetivo identificar possíveis estados de desnutrição ou obesidade, a partir da divisão peso sobre a altura elevado ao quadrado. Porém, pode apresentar resultados superestimados ou subestimados, devido sua grande utilização em estudos de grandes populações.

Segundo Slyper (1998), outro método bastante empregado, consiste no Índice de Relação Cintura-Quadril (RCQ), utilizado na identificação do padrão de distribuição regional da gordura, através da divisão do perímetro do abdômen pelo do quadril (em centímetros).

Sobre, o padrão de distribuição convém explicitar a relação entre a localização do acúmulo de tecido adiposo com doenças coronarianas e metabólicas. Na região central, compreendida pelo tronco e principalmente no abdômen, é muito comum em homens e apresenta estreita correlação a essas patologias citadas, como: infarto do miocárdio e o diabetes tipo II, respectivamente, denominada Andróide (RCQ padrão: 0,95). E já a gordura distribuída na região do quadril e coxa, chamamos de Ginóide (RCQ padrão: 0,85), não apresenta intimamente, uma boa analogia com essas doenças, quando comparada a Andróide., bastante comum em mulheres.

Acerca dos métodos de avaliação (diagnóstica, formativa e somativa) corporal, torna-se importante salientar os critérios de autenticidade científica, representado por sua fidedignidade, validade e objetividade dos testes aplicados, especificamente. Isto por que, quanto maior for o coeficiente de relação (r) de um determinado teste, maior será a aferição dos resultados obtidos, oferecendo ao avaliado por meios técnicos a credibilidade do teste, bem como, do avaliador. Deve-se ter consciência da variação dos custos desses de forma a se adequar aos padrões financeiros de cada pessoa.

Segundo McArdle at al. (1992), A inatividade física aumenta o risco relativo de doença cardiovascular, quando comparado a indivíduos ativos. E, argumenta-se que o nível individual de aptidão física está relacionado à hereditariedade e um pouco menos aos padrões de exercícios na vida diária. Entretanto, a manutenção dessa, através da prática regular de atividade física proporciona uma proteção significativa em termos de fatores de risco, principalmente quando se trata da obesidade e suas conseqüências. Os mecanismos de proteção estão interagindo diretamente aos efeitos benéficos do exercício, como: melhora a circulação miocárdica e o metabolismo, estabelece o equilíbrio neuro-hormonal, diminuição do acúmulo de tecido adiposo visceral e ginóide, entre outros.

O tabagismo produz diversos males a saúde, como: cardiopatias, problemas respiratórios e mortalidade. Segundo Ferreira (1996, p.460), "Saúde é o estado daquele cujas funções orgânicas, físicas e mentais se acham em situação normal". E apesar disso, esse fator modificável é de conhecimento amplo da grande maioria das pessoas, todavia, após o indivíduo parar de fumar pode ganhar peso, devido à substituição do vício do cigarro pela ingestão alimentar. Isto, por que a nicotina aumenta, artificialmente, a TMB.

A hereditariedade pode determina uma tendência a engordar, mas isso não significa uma sentença de morte. Primeiramente, por que à sociedade, a qual pertencemos, vem desenvolvendo novas técnicas para que a pessoa possa emagrecer, de forma sadia e controlada.
Os medicamentos, como os anticoncepcionais, produzem efeitos no sistema hormonal do organismo das mulheres. E tais modificações podem ocasionar, também, um aumento relativo do peso corporal. Assim, como a permanência da gordura acumulada durante a gestação após o parto, no caso da continuação de ingestão de calorias ou pelo fato de ter engordado bastante durante a gravidez. Sendo, fundamental por parte da gestante o conhecimento da consulta periódica (pré-natal) médica.

Em consonância ao Guia da vida saudável (1995, p.90-91), a obesidade torna-se uma séria ameaça à saúde, depois de um certo tempo. Pois, está associada a inúmeros distúrbios clínicos, Como descrito abaixo:

A falta de ar é muito freqüente, devido o excesso de peso interferir na mobilidade do músculo diafragma e sobrecarga de trabalho do coração;

Dores persistentes nas costas (lombalgias), isso, porque a parte superior do corpo está pesada e os músculos abdominais que a sustentam tendem a perder tônus, fazendo pressão sobre a coluna;

Diminuição de a flexibilidade articular, devido ao peso extra, que faz mais pressão sobre as articulações, principalmente na coluna e membros inferiores; e
Aumento do risco de varizes, por isquemias e agravado pelo sedentarismo.

A obesidade, além dos problemas já mencionados, pode provocar outros malefícios gravíssimos ao sistema vascular e aos órgãos, que são irrigados por ele. Baseado em Oliveira e Peyneau (2000,p. 7-9) a insuficiência cardíaca provocada por isquemia no endotélio arteriolar (placas de ateroma) faz com que o coração trabalhe com sobrecarga de esforço, em condições de repouso, isto é, a incapacidade do coração de fazer circular toda quantidade de sangue de que o organismo necessita. O infarto do miocárdio, causado por trombos, é a necrose das células musculares (tecido muscular estriado cardíaco), que formam as paredes do coração (miocárdio), produzida pela falta de irrigação desta área, devido à obstrução das coronárias (de forma lenta e progressiva), a qual produz uma dor opressiva, intensa e duradoura irradiada para o lado esquerdo, como: ombro e braço, caracterizando, inicialmente a angina. Porém, diferentemente da angina de peito, o infarto do miocárdio pode acontecer em situações corriqueiras do dia-a-dia (dormindo, passeando, etc). O acidente vascular encefálico (AVE), tanto isquêmico ou hemorrágico, é provocado pelo acúmulo de placas de ateroma nos vaso (LDL) ou hipertensão, a qual impedem ou obstruem o fluxo sanguíneo ao cérebro, diminuindo o aporte de glicose e oxigênio para produção e metabolização de energia e conseqüentemente, realização das funções vitais cerebrais.

É importante, que as pessoas desvinculem a perda de água (desidratação) com o emagrecimento. Pois, o senso comum, o qual norteia-nos, permite que as pessoas realizem verdadeiras manifestações de descaso com o próprio corpo. Isto porque, há uma diminuição do peso, através da sudorese, que é rapidamente recuperado com a ingestão de água ou isotônicos. Pessoas correndo nas ruas debaixo de um sol escaldante e totalmente agasalhada, sem a mínima orientação e não tem a preocupação na hidratação do organismo (antes, durante e depois da atividade física) ou utilizando-se de sacos plásticos sobre a região abdominal na execução dos exercícios, são bons exemplos a serem observados. Por isso, a melhor forma de se emagrecer é o débito calórico.
Conclusão

É mister que, apesar de todas as influências impostas por uma globalização intensa, torna-se fundamental, que as pessoas não se omitam acerca de toda esta substituição de hábitos e costumes, ou seja, da sua própria cultura permutada por qualquer outra. Pois, a cultura de uma sociedade é que identifica qualitativamente em relação aos outros países ou regiões. Com tudo, é necessário cultivar e ampliar, de forma a somar os conhecimentos de outrem. Diante desse contexto, os hábitos alimentares de cada sociedade definem o modo em que cada indivíduo se perpetuará no meio, de forma a relacionar o lazer e o trabalho, a qual implica diretamente na sua expectativa de vida, bem como suas conseqüências. Por isso, a obesidade é um fator de risco, que vem se destacando e crescendo amplamente no Brasil, mas mesmo assim não recebe a atenção necessária, demonstrada pela falta de informações do Governo Federal.

Por fim, é preciso que cada pessoa tenha consciência de que a melhor maneira de manter a saúde é baseado em uma alimentação equilibrada, concomitante a atividade física regular para promoção do peso ideal e diminuição do risco de mortalidade e cardiopatias.

Obs. Os autores Sandro Flores de Azevedo (sandroazevedo@click21.com.br) estuda na UNIVERSO e Thais Pereira Trindade (thaisptrindade@ckick21.com.br) estuda na UNIRIO

Referências bibliográficas

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  • Slyper, A. H. Childhood obesity, adipose tissue distribution, and, the pediatric practitioner. Pediatrics, Illinois, v.102, n.1, 1998. Disponível em: www.pediatrics.org. acesso em: 22 fev 2006.