Resumo

No ano de 2008, o Estado de São Paulo implantou seu referencial curricular para a rede de escolas públicas. A “Proposta Curricular de Educação Física” apontou para significativas mudanças na prática educativa desta disciplina. Alvo de algumas críticas tanto no espaço escolar quanto na área acadêmica, o atual Currículo de Educação Física (CEF-SP) tem tido o papel de subsidiar e orientar a prática pedagógica dos professores. 
Betti et al. (2010) afirmam que proposições curriculares para a Educação Física (EF), como a de São Paulo, têm incorporado em seus textos várias das proposições teórico-metodológicas surgidas após a década de 1980, especialmente ao que se refere às finalidades e concepções adotadas para a disciplina. Embora acusadas de ferirem a autonomia dos professores pela padronização de conteúdos e desconsideração dos contextos locais, os autores apontam que elas provocam um impacto positivo ao definirem um novo patamar para o debate pedagógico da área. 
A partir de Macedo et al. (2002), reconhece-se que mesmo após a adoção de documentos curriculares formais, os professores continuam desenvolvendo atividades e experiências não previstas ou sugeridas pelos currículos e/ou modificam o currículo proposto na sua prática, de forma a adequá-lo, num processo de interação com o currículo formal em que se é criada “uma alternativa curricular”. Assim, na prática o que se encontra é um currículo criado nas atividades cotidianas, que mistura elementos da proposta formal com as possibilidades de implantação reconhecidas pelos professores. 
Refuta-se assim uma compreensão dos professores como sujeitos que apenas aplicam conhecimentos produzidos por outros e parte-se da visão dos professores como sujeitos que mobilizam diferentes saberes (disciplinares, curriculares, da formação profissional, práticos ou experienciais) no momento de sua prática educativa. Os professores assumem sua prática a partir de significados por eles mesmos tecidos e possuem “conhecimentos e um saber-fazer provenientes de sua própria atividade”, a partir dos quais eles estruturam e orientam sua ação (TARDIF, 2010, p.230). Os docentes são percebidos como autores de sua prática pedagógica, e, mesmo imersos na complexa trama de relações presentes no cotidiano escolar, tendem a construir sua prática com autonomia e autoridade (CAPARROZ; BRACHT, 2007).

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