Resumo

A condição contemporânea sobre o atleta distingue-se da perspectiva da Antiguidade grega, pois, segundo Rubio (2001), a o ‘ser atleta’ desloca-se da preparação física e atlética, que constituía parte da educação e da formação enquanto cidadão grego, cujo exercício de guardião e “esportista” eram concomitantes, passando para a perspectiva do alto rendimento, na qual o atleta é vinculado ao espetáculo e ao lazer. Helal (1998), por sua vez, salienta que é a presença dos “heróis”, “ídolos” e “estrelas” que ampara os fenômenos de massa, como é o caso do esporte moderno. Este artigo objetiva, portanto, analisar como se dá a representação de atletas em uma série de romance policial norte-americana, a série “Myron Bolitar”, do escritor Harlan Coben. Hill (2006) estabelece que a relação entre esporte e literatura ocorre a partir da compreensão de que o esporte é capaz de comunicar variadas ideias para aqueles que o acompanham e a literatura, por sua vez, pode ser um meio de comunicar o esporte. Deste modo, a metodologia seguiu os preceitos da análise literária proposta por Antonio Candido (2014), abordando as correlações entre texto e contexto. A série “Myron Bolitar” é composta por 11 livros, dos quais dez abordam temas correlatos à prática esportiva através da representação de modalidades e atletas no enredo. Identificou-se que a percepção artística do escritor corrobora a perspectiva social contemporânea de atletas como protagonistas do fenômeno esportivo moderno, este como um espetáculo de massa, pois, como Coakley (2014) expõe, os atletas no plano contextual atingem a representação de celebridade, algo que podemos relacionar à caracterização dos atletas intangíveis descritos por Coben. Na série “Myron Bolitar” a estrutura profissional é atribuída às descrições sobre o esporte nos enredos, pois existem nas obras não somente personagens-atletas, mas também personagens que são dirigentes de time, patrocinadores esportivos, agentes esportivos, além da descrição de equipes de futebol americano, beisebol e basquetebol, entre outros. Inferimos, deste modo, que Coben realiza escolhas narrativas a todo momento da construção de seu texto (CANDIDO, 2014), selecionando aspectos que representam pontos de compreensão para o leitor, tanto estadunidense como estrangeiro. Os personagens-atletas assumem o papel de criminosos, cuja ação contraventora permanece oculta até o fim das narrativas. Ao longo destas, no entanto, os jogadores e jogadoras assumem características verossimilhantes com seus pares contextuais (CANDIDO, 2014), embora permaneçam sob a égide de figuras dramáticas. Ainda sobre a representação de atletas nas obras, estes têm como coadjuvantes nas narrativas atletas do mundo real – como Michael Jordan, Andre Agassi, Magic Johnson, Larry Bird, O. J. Simpson, entre outros –, que se tornam personagens dos enredos, assim como empresas de produtos esportivos de repercussão internacional, que podem ser reconhecidas pelos leitores de norte-americanos e de outros países para os quais os livros foram traduzidos.

Referências
CANDIDO, A. Literatura e Sociedade. 13 ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2014.
COAKLEY, J. Sports in Society: issues and controversies. 11 ed. New York: McGraw Hill, 2014.
HELAL, R. Mídia, Construção da Derrota e O Mito do Herói. Motus Corporis (UGF), Universidade Gama Filho, Rio d, v. 5, n. 2, p. 141-155, 1998.
HILL, J. Sports and Literary Imagination: essays in history, literature, and sport. Germany: Peter Lang, 2006.
RUBIO, K. O Atleta e o Mito do Herói: O imaginário esportivo contemporâneo. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001.