Resumo

Atualmente, grande parte dos clubes no cenário futebolístico nacional e mundial manifesta muita preocupação em qualificar a formação dos seus atletas vindos de categorias de base e realizar contratações e dispensas de atletas com maior rigor e critério. Para além da performance esportiva e do retorno dos investimentos realizados, deve ser ressaltado o entendimento e valorização do atleta enquanto sujeito e não como mercadoria. Refletir sobre o procedimento de construção e adaptação ativa do grupo, buscando maior cuidado e atenção, sobretudo no aspecto humano, dos atletas formados nas categorias de base do clube e recém-contratados, seria um importante passo para contribuir com esse processo. Dessa forma, se faz necessário conhecer e compreender a vida dos atletas e membros da comissão técnica em sua prática profissional. Assim, este estudo teve por objetivo descrever e analisar a rotina de uma equipe profissional de futebol buscando compreender o processo de formação e adaptação do grupo. Esta pesquisa foi realizada tendo como principal referencial teórico a psicologia social postulada por Pichon-Rivière (1982; 2000). Sob influência de conceitos da psicologia social trazidos por Kurt Lewin e George Mead e da Psicanálise de Melanie Klein (SCARCELLI, 1998), Pichon-Rivière formula sua teoria subsidiada por uma compreensão de psicologia social que tem como um de seus objetivos específicos a análise das interações entre indivíduos e grupos. Neste ponto, ressalta a necessidade de associar a investigação psicanalítica à social por meio de uma tripla direção (psicossocial, sociodinâmica e institucional ) possibilitando assim uma análise completa do grupo a ser investigado. (PICHON-RIVIÈRE, 1982b). Seguindo as orientações de uma pesquisa qualitativa, partiu-se de um levantamento bibliográfico e um estudo de campo envolvendo observações e entrevistas com integrantes (dirigentes, comissão técnica e atletas) de um clube profissional do futebol brasileiro. Permaneceu-se em contato diário com o grupo de atletas e comissão técnica por 45 dias nas diversas situações em que os processos de formação e adaptação de grupo são manifestados mais evidentemente, observando-os em situações de treino, jogo, concentração e refeições. As entrevistas, realizadas a partir do referencial teórico de Grupo Operativo proposto por Pichon-Rivière (SCARCELLI, 1998), foram abertas e configuradas no próprio campo. Tais procedimentos metodológicos buscaram associar a investigação psicanalítica à social por meio da análise psicossocial, sociodinâmica e institucional dos grupos investigados. A vida de um atleta ou membro da comissão técnica que integra um clube profissional de futebol é bastante difícil, atípica e singular. Sua rotina é cansativa, estressante, cercada por pressões de torcida, diretoria e mídia por vitórias e conquistas. No entanto, a distância da família e “ausência” de vida social são os principais problemas explicitados. Ainda assim, em várias situações, sobretudo em treinos, vestiário e concentração, há diversos momentos de alegria, brincadeiras e descontração. Conhecer a vida e rotina de determinados grupos sociais, dentre eles uma equipe profissional de futebol, é fundamental para compreendermos o processo de formação e adaptação de grupo. As características da atividade profissional (exceto a alta rotatividade de atletas e treinadores entre os clubes), o dia-dia dos atletas e comissão técnica e personalidade dos atletas favorecem que este processo se dê mais rapidamente. Entretanto, mais cuidados e estratégias que facilitem a adaptação ativa ao grupo devem se fazer mais presentes, respeitando e valorizando, sobretudo, os atletas e membros da comissão técnica como sujeitos repletos de desejos e de necessidades pessoais, dentre elas aquelas que extrapolam o âmbito esportivo/profissional.


 

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