Resumo

Com as recentes modificações na conjuntura social mundial, a educação brasileira foi chamada a responder a novos desafios. Nesse contexto, o currículo cultural da Educação Física, inspirado nas teorias pós-críticas, emerge como uma alternativa às propostas curriculares totalizantes, mostrando-se disposto a colaborar na formação do cidadão crítico e na construção de uma sociedade mais democrática e sensível às diferenças. Tendo por objetivo analisar junto a um grupo de professores(as) que atuam nessa perspectiva como tecem as ações didáticas de tematização e problematização, bem como as possibilidades de potencialização para novas tessituras, a presente pesquisa de enfoque qualitativo, entrelaçou os seguintes dispositivos de produção de dados: grupos de discussão, observações participantes e entrevistas. As análises realizadas mediante a hermenêutica crítica revelaram que a tematização das práticas corporais constitui-se em importante estratégia de política cultural, criando efeitos contra-hegemônicos no currículo escolar. No currículo cultural da Educação Física, os conteúdos de ensino não são definidos a priori no planejamento uma vez que decorrem da relação dialógica entre os sujeitos participantes do processo pedagógico. A partir de elementos disparadores e elementos provocadores, a problematização tece a tematização, permitindo que o currículo em ação assuma um caráter rizomático. Quanto mais se problematiza, maiores são as chances da tematização manter-se atenta ao processo de fixação simbólica, dada a intensificação da circulação dos discursos sobre as práticas corporais e seus representantes. Sob essas circunstâncias, a ação didática do(a) professor(a) é continuamente (re)centralizada, colocada em devir. Enquanto vetor que intenciona a desconstrução, a problematização permite ampliar as possibilidades de significação; suspender os regimes de verdade com que os significados operam nas diferentes épocas e contextos; atualizar a relação do sujeito consigo próprio e com o mundo, potencializando a produção de novos problemas e conceitos. Entretanto, em determinados momentos, as problematizações não enveredam para exercícios arquegenealógicos das práticas corporais, ou mesmo, chegam a apartar-se dos acontecimentos referentes às manifestações tematizadas e da voz do sujeito subjugado. Reconhecemos que as investidas contra-hegemônicas da proposta cultural da Educação Física não escapam das marcas deixadas pela maquinaria escolar. Nesse contexto, para que as diferenças possam afirmar-se, a artistagem do currículo exige que os(as) professores(as) enfrentem e se posicionem politicamente ante as inúmeras redes de força que se estabelecem nas escolas e na sociedade mais ampla e que, por vezes, tensionam ao fechamento em identidades hegemônicas.

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