Resumo

O objetivo deste estudo foi investigar a percepção da autonomia de atletas com deficiência intelectual sob a perspectiva da teoria bioecológica do desenvolvimento humano. Entrevistaram-se dez atletas de natação com deficiência intelectual (cinco do programa esportivo paralímpico e cinco do programa da Special Olympics), de ambos os sexos, maiores de 18 anos, bem como suas respectivas mães (n = 10) e treinadores (n = 8) e um assistente. Um questionário semiestruturado foi utilizado para coletar suas opiniões. Os coordenadores (n = 5) de cada programa responderam a duas questões por escrito. A análise descritiva e interpretativa baseou-se no modelo processo-pessoa-contexto-tempo. Os resultados indicam que as disposições, os recursos e as demandas (atributos da pessoa) observados nos processos proximais do microssistema do ambiente lar/família e do ambiente esporte refletem especificidades que demandam uma abordagem contextualizada do modus operandi de cada atleta. Em alguns casos, os atributos se mostraram desenvolvimentalmente instigantes e, em outros, combinaram-se características pessoais positivas e negativas que influenciaram o comportamento autônomo. Os resultados também indicaram que atividades no ambiente lar/família, bem como treinamento e competições no ambiente esporte, têm um efeito importante na autonomia. As metas e ações institucionais se relacionaram com a intervenção profissional dos treinadores, refletindo interconectividade entre o meso e o exossistema. Apesar de participarem de discussões em grupo sobre direitos relativos à autonomia, mães, treinadores e mesmo atletas engajados em organizações em defesa dos direitos da pessoa com deficiência mencionam apenas poucos documentos existentes no macrossistema. Identificaram-se eventos com características microtemporais e mesotemporais nos processos proximais, mas, para o cronossistema, as expectativas deveriam contemplar mudanças de comportamento em longo prazo. Mães e treinadores têm um papel importante na mudança de comportamento dos atletas, mas a análise do mesossistema não confirma a transversalidade entre os ambientes lar/família e esporte. Aparentemente, prevalecem crenças pessoais nas ações adotadas pelas mães e treinadores, em detrimento de aspectos culturais e de normas nacionais relacionadas ao macrossistema. Desta forma, pode-se confirmar que os processos proximais são de fundamental importância em qualquer relação interpessoal. A perspectiva bioecológica adotada para compreender a autonomia de atletas com deficiência intelectual permite afirmar que o esporte pode ser considerado um ambiente favorável ao desenvolvimento humano

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