Resumo

O estudo discute, na perspectiva do imaginário social, sentidos de aventura
e risco entre jovens skatistas streeters de lazer, captados durante o giro
pela cidade dessa tribo que adota estilos singulares: o de praticar esportes,
vestimenta, linguajar e o sentido afetual desses ajuntamentos. Estudo
qualitativo, entrevistou 10 jovens estudantes de 15 a 22 anos. Utilizou-se
análise dos discursos (ORLANDI, 2001). Skatear pela cidade consiste em
deslizar sobre pranchas saltando bancos, calçadas, escadas, caixotes e
obstáculos. Estar junto funda a construção da socialidade desses jovens na
pós-modernidade em que predominam o contato afetual, fenômenos
emocionais, dominância imaginal (MAFFESOLI, 2000). Aventura e risco
assumem sentidos de vertigem manifestados na sensação corporal de medo/
prazer; o lúdico aparece na exploração da cidade, criação/utilização de
obstáculos; o autocontrole aparece aglutinado ao empreendedorismo e à
expansão, indício de domínio do exercício dessa atividade no meio urbano,
cujas informações estão fora do controle, à mercê das variações do ambiente;
a estrutura de sensibilidade é do herói, guerreiro solar, vigilante constante,
dominada pelo controle do espaço e da visão (DURAND, 1998). O mito de
Dioniso dá suporte ao impulso lúdico, transgressor, desnorteante, anônimo
na trajetória desses jovens. Trazem para o cenário urbano piruetas e
malabarismos, demarcando espaços. É por Dioniso que deixam de fazer
uso de pipes, mascarando Apolo surgido no auto-controle das manobras
se lançam em aventuras deslizando pelas ruas da cidade. Dioniso herdou
de Zeus a errância, um deus ambulante. A trajetória dos streeters está
impregnada dessas manifestações ao atingirem o êxtase nas manobras
radicais. Entusiasmo, transgressões vividas nas falas colocam em evidência
a penetração do mito manifestado como estilo de vida. Vagabundeiam pela
terra, mas voltam-se para a liberdade. O mito conservou intacto elementos
primitivos: transgressão, transformação, êxtase, entusiasmo, também
encontrados nas práticas outsiders dos skatistas streeters. Podemos
enquadrá-los como novos arquitetos urbanos, renovando o olhar pela
cidade. Desmistifica-se a idéia de que os atores pareçam loucos ou meiovagabundos. Buscam liberdade de ação, transgredindo normas vigentes, a
prática limpa do skate, encantam-se pela cidade como pela contestação
representada pelo skate. Esses novos arquitetos urbanos, são amantes da
cidade que os agasalha e que desconfia de suas manobras.

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