Resumo

O contexto da organização dos serviços de saúde no Brasil, em especial os centros urbanos, passa por um grande desafio, que é o estabelecimento de um diálogo entre a Atenção Primária à Saúde (APS) com os demais pontos de atenção à saúde, de tal forma que essa integração se constitua na forma de Redes de Atenção à Saúde (RAS). Diante disso, temos por objetivo avaliar a Estratégia Saúde da Família (ESF) no desempenho das funções de coordenadora e ordenadora do cuidado na operacionalização das RAS em uma metrópole. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, avaliativa, na modalidade estudo de caso, fundamentada em Guba e Lincoln (2011), com algumas adaptações realizadas por Wetzel (2005). O processo de construção das informações empíricas foi realizado durante os meses de janeiro a junho de 2015, norteado pelo círculo hermenêutico dialético, por meio de entrevistas com cinco gestores e nove trabalhadores, encontro grupal com cada um desses grupos e 80 horas de observação participante. Emergiram como balizas da apresentação dos resultados duas temáticas: (i) Organização e gestão das RAS pela APS; e (ii) processo de trabalho na APS e suas repercussões nas RAS. Na primeira delas, os principais achados foram: a dependência do modelo de atenção à política partidária; à resistência ao novo por parte dos trabalhadores; o contexto complexo de organizar as redes de atenção em um centro urbano; uma descaracterização da Estratégia Saúde da Família, na medida em que a agenda das equipes de Saúde da Família está amplamente centrada na atenção às condições agudas/demanda espontânea; gestão verticalizada, que se caracteriza pelo fim dos encontros das Unidades de Atenção Primária à Saúde (UAPS); o prontuário eletrônico, que ainda não integra os diversos pontos da rede; a proposta da estratificação de risco, que tem por base diretrizes clínicas que tangenciam o princípio da equidade; e a perspectiva de construção corresponsável de fluxos e contrafluxos a partir de uma vinculação entre UAPS e as unidades de referência. Na segunda temática, os principais achados foram: a baixa cobertura populacional, a formação fragmentada, a forma como se organizam os serviços das equipes de Saúde da Família, a falta de medicamentos e insumos básicos e rotatividade de profissionais de saúde como limitantes para gestão das RAS. Diante disso, Fortaleza ainda apresenta um cenário de fragmentação das RAS, mas com perspectivas de mudanças. Todavia, algumas das mudanças implementadas reforçam os modelos hegemônicos – médico assistencial e sanitarista e consequentemente limitam a integralidade. 

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