Resumo

Introdução e objectivos: O Brasil (5 vezes campeão mundial de futsal) mesmo se mantendo como o favorito nas competições em que participa vem perdendo, a cada ano, a hegemonia no cenário internacional com o crescimento da modalidade em países da Europa, Ásia e África. O nível de sucesso não tem se refletido em pesquisas na modalidade em nosso país. O Centro de Estudos da Cognição e Ação (CECA) da Escola de Educação Física da UFMG desenvolve trabalhos na área de investigação dos esportes coletivos. Material e métodos:Neste estudo procurou-se analisar, através de planilhas de Scout, as ações ofensivas da seleção brasileira sub-20 no mundial do Egito (2003) para verificar: as ações ofensivas mais utilizadas pela seleção brasileira: Jogo Organizado (J.O.); Contra-Ataques (C.A.); e Bolas Paradas (B.P.); e os resultados obtidos nestas ações (gol, trave, chute defendido e rebatido pelo goleiro, chute rebatido e travado pelo defensor e chutes para fora). O jogo organizado foi caracterizado como todas as ações na qual o Brasil visou desequilibrar a defesa adversária, através de conceitos e padrões de jogo pré-estabelecidos, em situações de igualdade numérica (exceto situação de expulsão). O contra-ataque foi definido como as situações nas quais o ataque se encontrava em superioridade numérica e alcançou o gol adversário de forma dinâmica. Já as bolas paradas foram classificadas como as situações de lateral defensivo, ofensivo, tiro de canto e falta em que a bola foi tocada no máxi-mo três vezes, após ter sido colocada em jogo caracterizando uma jogada ensaiada. Como o futsal é um esporte coletivo com situações de invasão e oposição, a interação da postura de mar-cação adversária certamente provoca tipos diferentes de com-portamento de ataque. No mundial analisado o Brasil realizou quatro jogos. Em três deles, o comportamento adversário foi defensivo, caracterizado pela marcação meia quadra. Somente a seleção do Egito apresentou uma postura de jogo diferente, adiantando a marcação e buscando o gol. Esses fatos contribuí-ram para explicar os resultados obtidos nessa pesquisa. Principais resultados e conclusões:A análise descritiva dos dados mostra que, das 156 finalizações da seleção brasileira, 102 (65,38%) aconteceram em situações de jogo organizado (J.O.), 33 (21,15%) em contra-ataques (C.A.) enquanto que somente 21 finalizações foram provenientes de situações de bola parada (B.P.). Em contra partida, quando analisados os resultados obti-dos, observou-se que no jogo organizado somente 5 finaliza-ções das 102 realizadas se tornaram gols (efetividade de finali-zação de 4,9%). Os contra-ataques somaram 7 gols em 33 fina-lizações realizadas (efetividade de finalização de 21,21%) con-firmando assim a importância desta fase do jogo. Já em situa-ções de bola parada o Brasil marcou apenas 1 gol, das 21 finalizações realizadas (efetividade de finalização de 4,76%). A análi-se inferêncial verificou, através do pacote SPSS (Statistical Package for Social Sciences) 10.0 for Windows; (Paired Samples T Test) a presença de diferença significativa tanto entre as finali-zações provenientes do J.O. x C.A. (p = 0,045) quanto do J.O. x B.P (p = 0,009). Já quando comparados os C.A. e as B.P. não foram encontradas diferenças significativas (p = 0,920). Pode-se concluir que, apesar do alto índice de finalizações provenientes do jogo organizado, decorrido provavelmente pela postura defensiva das equipes adversárias, os contra-ataques os foram comportamentos táticos mais eficientes. A verificação da relação entre jogo organizado, contra-ataques e bolas paradas é importante pois auxilia no planejamento dos treinos de técnicos e treinadores e, desta forma, contribui para o desenvolvimento da modalidade. Novos estudos tornam-se importantes para continuar a elucidar a relação dos fatores intervenientes no rendimento esportivo no futsal.