Integra

Em nossa última conversa falei sobre o tempo como uma condição essencial para a vivência do lazer. Embora seja um construto inelástico, a experiência de lazer, seja ela positiva ou negativa, contraria esse pressuposto: nem “tudo que é bom dura pouco” ou “não há mal que não se acabe”…
Ao retomar este espaço, argumentei com nosso amigo Laércio, o “pai” do CEV (acho que ele não gosta desse tratamento …) que iria fazê-lo para falar do lazer, sempre que possível na sua dimensão da gestão, mas essencialmente “contando histórias” (ou “estórias”…)
Na semana passada, dentro de um período de 24 horas recebi três propostas de confraternização: (1) 45 anos da formatura da High School onde completei o ensino médio nos Estados Unidos, (2) 42 anos de minha formatura na Escola Superior de Educação Física de São Carlos/SP e (3) 40 anos da formatura da primeira turma da Faculdade de Educação Física de Sorocaba, na qual, naquela ocasião, fui o professor de Voleibol e, quase que “por acidente”, de Recreação.
Nem preciso dizer que minha relação com a Recreação foi “amor à primeira vista” e de lá para a sua visão “comunitária” foi um pulo, o que veio abrir novas perspectivas no abrangente mundo do lazer, enquanto vivência e, principalmente, como área de conhecimento interdisciplinar.
Mas voltando às festas, o que mais me chama a atenção nessas celebrações é o maior componente de “afetividade” nas do Brasil em relação ao componente de “efetividade” na dos EUA. Enquanto aqui no Brasil, de maneira gratuita, celebramos o reencontro, boa parte da relação com os “alumni” nos EUA está pautada pela capacidade de retorno que um formando pode dar à sua instituição de origem.
Diria, “nem tanto o céu, nem tanto a terra”!
Chama a minha atenção, quando anos depois, fui fazer pós-graduação nos EUA, em instituições distintas, e a capacidade que eles tem de transformar a “alma mater” em benefícios palpáveis para as novas gerações de estudantes, especialmente com o desenvolvimento de fundos, sejam para melhorar algum aspecto da instituição, sejam para criar os chamados “grants”, que ampliam as possibilidades de pesquisas dos docentes assim como bolsas de estudos para jovens talentosos, mas sem recursos financeiros.
Portanto, entre a festa e o serviço, fico com os dois!
Forte abraço.
Bramante

Por Bramante
em 31-08-2013, às 23:42

3 comentários. Deixe o seu.

Comentários

Olá Bramante,

Identifico-me com você em alguns aspectos. Sou “professor e técnico” de voleibol, ex-praticante voltado para a eficiência e qualidade de vida, i. e, atuava por prazer em realizar gestos técnicos com maestria, tal qual faz um virtuoso ao violino, um mestre da pintura. A vitória em uma partida era mero detalhe, o que importava eram os momentos criativos e a espontaneidade dos gestos. A partir de pesquisas e estudos, inclinei-me por proporcionar a atividade na sua forma lúdica: “Aprender brincando, aprender jogando”, sugerida pelo alemão G. Dürrwächter, a quem conheci na Suécia durante o 1º Simpósio Mundial de Mini Voleibol (Fivb). Daí, que ensinar voleibol ou ouro desporto para crianças, deveria estar calcado nas possibilidades futuras de lazer, e não prospectar talentos e condenar milhares ao ostracismo esportivo, especialmente as mulheres.
Outra coincidência, atualmente trabalho por conta própria dedicando-me a compartilhar com a nova geração de professores para que despertem para um “Novo Ensino”, compartilhando com seus alunos ideias novas, destituídas do sentido de competição que alija a maior parte delas do processo, diminuindo-lhes oportunidades de realização. O difícil é romper a casca grossa do lobi de nossas universidades.
Todavia, continuarei tentando, pois acredito que ainda há pessoas que pensam!
Um abraço.

Por Roberto Pimentel
em 1-09-2013, às 7:53.

Bramante,
Parece que esses convites de turma só sáo pra avisar as muitas décadas. A minha turma de 70, da EFUSP tem almoço marcado para o dia 21 de setembro.

Boa a sua comparação sobre fundações nos EEUU e em Pindorama. Lá, com fundos, todo mundo contribuindo, e aqui, carnavalizando, com todo mundo tentando garfar fundos do governo. Meu orientador, Fred Litto, gringo e ainda não acostumado com as alegrias tropicais na época, escreveu um artigo sobre isso no Estadão:

LITTO, F. M. . Uma fundação pressupõe um fundo. O Estado de São Paulo, São Paulo, p. 36, 27 jan. 1983.

Passados 30 anos, além de dois prêmios Jabuti, o que mais chama a atenção na prateleira do escritório dele, são as taças do bicampeonato do carnaval paulista, tocando chocalho na bateria da Escola de Samba Camisa Verde.

Pois é. Lazer.

Laercio

Por laercio
em 1-09-2013, às 18:11.

Caro Roberto
Compreendo e até me sensibilizo com as suas premissas sobre o esporte, dada a sua extraordinária capacidade de potencializar os valores de uma sociedade. No entanto, há muito tempo aceitei a competição, dentro dos parâmetros éticos, como um fato natural de sua prática, ou seja, não consigo ver a dicotomia que cheguei a aprender nos anos de faculdade (muiiiito tempo… ) que “recreação/lazer e competição não combinam”. Na minha concepção, puro engano, para não dizer ingênuo. Abraços.

Por Bramante
em 3-09-2013, às 21:10. 

Acessar