Resumo

O artigo propõe uma reflexão psicolingüística sobre as construções conceituais de crianças surdas no que diz respeito à escrita. O trabalho revela, a partir de um diálogo com as idéias de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, que a psicogênese da escrita vivenciada por crianças surdas, que têm a língua de sinais como primeira língua e língua de instrução, se desenrola de forma diferente ao que é vivido por crianças ouvintes em processo inicial de construção da escrita. As principais especificidades dessa aquisição relacionam-se: a não-fonetização da escrita, a uma intensa exploração dos aspectos viso-espaciais da escrita e ao uso dos parâmetros fonológicos da língua de sinais como elemento regulador e organizador da escrita. Tais peculiaridades exigem, portanto, que a escola e o professor alfabetizador revejam suas concepções sobre o processo de escrita no surdo, pensando em (novas) práticas pedagógicas que considerem a realidade bilíngüe e sua relação não-sonora com a escrita.