Resumo

O objetivo deste estudo foi o de descrever mais pormenorizadamente a interação mãe-criança (M-C). Visando a identificação de dimensões relevantes ao desenvolvimento lingüístico da criança. Com base neste objetivo, o estudo se propôs a descrição naturalística da interação com ênfase em díades estudadas individual e longitudinalmente. Serviram como sujeitos três pares mãe-criança normal (M-Cn) e três pares mãe-criança portadoras de Síndrome de Down (M-Csd). Todas crianças eram do sexo masculino, pertencentes a famílias da classe media inferior e moradores de bairros periféricos da cidade de Ribeirão Preto. Nenhuma delas apresentava déficits sensoriais óbvios (audição e/ ou visão). A idade das crianças no inicio do estudo variou entre 13 e 57 meses. A situação de observação foi de "brinquedo livre". Nas sessões de observação ficaram presentes a mãe, a criança e mais um ou dois observadores, que faziam o registro continuo dos comportamentos não vocais de M e de C, durante um período de 20 minutos, tempo máximo de cada sessão. O registro continuo teve a finalidade de informar as ocorrências de comportamento motores antecedentes, conseqüentes e/ou simultâneo as verbalizações de cada membro da díade. Os comportamentos verbais (vocais) foram registrados em fitas cassete por um gravador, com entrada concomitante de indicação dos intervalos temporais de um minuto , ditados por um observador durante a realização da sessão. Posteriormente estas fitas foram transcritas e permitiram informar sobre o desempenho verbal de cada membro da díade. As observações foram conduzidas ao longo de um período de 18-20 meses para os pares com crianças portadoras de Síndrome de Down e reduzido a 12-14 meses para as díades com crianças normais. Durante esse período, conjuntos de observações realizadas com o objetivo de descrever um momento do desenvolvimento individual constituíram-se 4-6 sessões de observações separadas por intervalo que variou de 7 a 18 dias. Para efeito das analises dos dados apresentadas neste trabalho, foi utilizada uma amostragem de seis sessões para cada par M-Cn e M-Csd selecionadas de forma a garantir a descrição do desenvolvimento dos sujeitos individuais e viabilizar comparações entre sujeitos, onde se fizessem interessantes. A partir das transcrições e da demarcação das verbalizações em unidades verbais, iniciou-se a caracterização quantitativa e qualitativa do desempenho verbal da mãe e da criança através das seguintes medidas: a) Extensão media do enunciado (MLU "Mean Length of Ulterance"), computado em palavras; b) Produção verbal das díades: vocalizações por minuto; c) Complexidade da fala: Índice de verbos por verbalizações e proporção de verbalizações sem verbos. Os dados destas analises parecem revelar que as crianças normais tendem a aumentar sua complexidade lingüística a medida que vão ficando mais velhas. Fato esse evidenciado no numero de palavras e verbos empregados nas suas verbalizações e no decréscimo da proporção de verbalizações sem verbos, ao longo da idade cronológica das mesmas, em comparação com as crianças portadoras de Síndrome de Down. As crianças com Síndrome de Down apresentam um grande atraso no desempenho lingüístico quando comparadas com as crianças normais, tanto em termos de números de palavras, quanto em termos de números de verbos empregados. Portanto, apesar das crianças com Síndrome de Down apresentarem superioridade na produção verbal em relação as crianças normais, seu desempenho lingüístico é bastante deficitário em termos de complexidade lingüística empregada. Os dados destas analises parecem sugerir ainda, que as mães tendem a acompanhar o nível de verbalizações de suas crianças de acordo com seu desempenho. As mais das crianças com Síndrome de Down, apesar de apresentarem um nível de produção verbal superior ao das mães com crianças normais, parecem simplificar mais sua interação verbal (vocal) com a criança tanto em termos de palavras por verbalização, quanto em relação ao numero de verbos empregados.

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