Resumo

LAZER EM CHAVE AMPLIADA

Danilo Santos de Miranda Diretor do Sesc São Paulo

A circunstância contemporânea exige que a leitura crítica do mundo seja exercitada de modo integral. Isso significa que os olhares devem ser direcionados para aspectos tradicionalmente valorizados, como o mundo do trabalho e suas implicações, mas também precisam contemplar facetas igualmente importantes mas que, por razões diversas, mobilizam questionamentos menos frequentes – é o caso da esfera do lazer.

Marcado pelos signos do prazer e da descompressão, tal tema é, não raro, associado à ideia de superficialidade, como se aproximações teóricas mais consistentes fossem incompatíveis com esse campo. Todavia, é fundamental reforçar a relevância dos estudos nesse domínio.

A centralidade que o período pós-Guerra conferiu ao tempo não ocupado pelo trabalho, preenchendo-o com toda sorte de estímulos, gerou efeitos que desafiam análises. Pesquisadores oriundos de vivências acadêmicas plurais perceberam a complexidade inerente às dinâmicas de gosto, às motivações direcionadas a determinadas práticas e às maneiras pelas quais as estruturas de poder político-econômico lidaram com esse quadro.

O Sesc participou de forma ativa da difusão do tema do lazer no Brasil. Por um lado, suas ações dedicadas ao bem-estar do trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo e seus dependentes, bem como da sociedade em geral, conferiram protagonismo aos momentos do cotidiano sobre os quais o indivíduo tem maior poder de escolha. A instituição desenvolveu modos próprios de qualificar tais ocasiões, mobilizando para isso saberes e iniciativas em áreas diversas, da atividade-física ao turismo social, das expressões artístico-culturais à alimentação, dos processos educativos não-formais aos programas para faixas etárias específicas.

Numa postura complementar a essa, o Sesc ajudou a colocar o assunto em pauta no cenário nacional. A partir da década de 1960, empreende ações formativas para funcionários e encontros temáticos abertos a todos interessados sobre o tema, com destaque para o Seminário sobre o Lazer - perspectivas para uma cidade que trabalha, em 1969, assim como para a aproximação ao sociólogo francês Joffre Dumazedier.

Em 1998, percebendo a pertinência de dar continuidade aos debates nessa área, o Sesc sedia pela primeira vez o Congresso Mundial do Lazer. Vinte anos após a edição intitulada “Lazer em uma sociedade globalizada”, o Sesc realiza novamente o evento, conjuntamente com a World Leisure Organization (WLO) e a Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH/USP). Nesta edição, o foco do evento é “Lazer sem restrições”, abordando as barreiras que podem dificultar o acesso das pessoas a práticas múltiplas, bem como as maneiras de minimizar esses entraves, considerando o lazer um direito na sociedade contemporânea.

A publicação dos Anais desta edição do Congresso Mundial do Lazer pretende ampliar o alcance de um tipo de discussão que merece ultrapassar suas fronteiras espaço-temporais originárias. Trata-se de reconhecer a necessidade de democratizar não apenas as práticas, mas também as reflexões nesse âmbito. Numa visada ampliada, trata-se fundamentalmente de considerar que os processos educativos são mais contundentes quando invadem os diversos campos da atuação humana, ocupando-os com novas leituras e sentidos. 

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