Resumo

Visando subsidiar a implantação de um serviço de psicologia em um Centro de Saúde da rede pública, este estudo foi realizado com os objetivos de: identificar as expectativas dos profissionais lotados na instituição, a respeito de um serviço de psicologia em perspectiva; identificar as formas de encaminhamento do cliente ao serviço; identificar as expectativas das famílias que solicitaram atendimento psicológico; caracterizar em aspectos psicossociais e clínicos, a clientela constituída de crianças na faixa dos 04 aos 12 anos e identificar o índice de abandono. Participaram do estudo 53 profissionais do centro de saúde, 66 mães e 66 crianças, que procuraram o serviço de psicologia. As informações foram colhidas através de: a) entrevistas individuais estruturadas e semi-estruturadas, guiadas por roteiros específicos; b) avaliação da criança; c) consulta a dados de arquivo. As respostas às entrevistas foram categorizadas comparando-se os grupos de sujeitos, em função do sexo, presença e ausência de queixas escolar, considerando a freqüência e proporção das categorias. As expectativas dos profissionais referiam-se à necessidade de atender uma demanda "reprimida", através de orientação e/ou apoio. As principais fontes de detecção de problemas e encaminhamento foram as escolas e os profissionais da saúde. A faixa etária mais representada foi do 07 aos 12 anos e a maioria das crianças cursava a 1ª série, pré-escola e 2ª série. Os principais motivos de procura de atendimento psicológico foram relativos a problemas de aprendizagem escolar e desinteresse pela escola. As queixas mais freqüentemente relatadas pelas mães foram relativas a heteroagressão, baixa tolerância à frustração, desinteresse pela escola, dificuldades de aprendizagem e eliminação. Na avaliação através de teste psicológico, a maioria das crianças mostrou desempenho compatível com a classificação de inteligência normal, sendo que no grupo com queixa escolar foi maior a proporção de crianças com resultados menos favoráveis, em comparação com as crianças sem queixa escolar. Na história de desenvolvimento, a maioria das crianças apresentou eventos problemáticos nos contextos de vida pessoal e familiar. Em se tratando de crianças com queixa escolar, a presença destas circunstâncias adversas colocam a criança em condições de Stress psicossocial, além das conseqüências afetivas e sociais do fracasso escolar. Quanto à posse de materiais educativos e hábito de ler das famílias, as crianças com queixa escolar estavam em defasagem em relação a outro grupo de crianças. Os abandonos ocorreram com maior freqüência antes do término do processo de avaliação e depois de 06 meses de acompanhamento psicológico; com pais menos escolarizados e menos qualificados profissionalmente e com maior freqüência de queixas relativas a heteroagressão. Este trabalho trouxe maior compreensão a respeito do serviço que estava se instalando, permitindo identificar as problemáticas da clientela infantil, favorecendo a elaboração de um programa de trabalho voltado para as necessidades da demanda.

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