Resumo


O sinal da cruz feito sobre o peito ao entrar no local de disputa sempre com o pé direito; dedos apontados para o céu enquanto uma reza ou oração é proferida antes da partida, ou em agradecimento por um gol ou ponto marcado, enfim, pela vitória, pela medalha pendurada no pescoço. Conseguimos encontrar com muita facilidade inúmeras manifestações cotidianas de religiosidade no meio esportivo. Essas crenças pessoais e o esporte podem conviver em paz e harmonia na vida de um atleta por toda sua carreira em total simbiose. Todavia, ambos, esporte e religiosidade podem se chocar e promover momentos de crise entre a religião professada, crenças pessoais e a carreira esportiva. Alguns exemplos disso podem ser percebidos nos conflitos envolvendo a observação de jejuns obrigatórios impostos pela religião durante competições, guarda de dias sagrados, abstenção e recusa em receber prêmios em bebida alcóolica, uso de uniformes com slogans contrários à crenças ou que mostram o corpo de forma imprópria, entre muitos outros. Como estes processos são percebidos na carreira de atletas olímpicos? Será que o esporte pode ser visto, de alguma forma, como um substituto, parceiro ou inimigo da religião para alguns atletas? Como a religião poderia influenciar os processos de treinamento e as competições? E ao mesmo tempo, como o esporte poderia influenciar as práticas religiosas cotidianas? Assim, quais as relações que os atletas percebem entre o esporte e suas crenças? Como os atletas enxergam e administram tais relações? Assim, foi objetivo desta pesquisa investigar, comparar e analisar as possíveis relações das vivências esportivas e da religiosidade de atletas olímpicos mediante entrevistas semiestruturadas baseadas no Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) e Método de História Oral. Participaram deste estudo cinco atletas do sexo feminino e idade entre 27 e 56 anos, competidoras na última edição dos Jogos Olímpicos realizado no Brasil no ano de 2016 considerando a representatividade de tais atletas no cenário nacional nas modalidades Rugby, Luta (Wrestling), Remo, Taekwondo e Tiro Esportivo. Neste estudo exploratório descritivo de natureza qualitativa foram realizadas entrevistas semiestruturadas baseadas nos métodos de História Oral Temática e os dados analisados a partir do DSC. Os resultados mostraram que a influência religiosa percebida diretamente na vivência esportiva é fraca: pontual - somente para determinados fins e esporádica - apenas em alguns momentos, estando sempre relacionada à superação de desafios e conquista de objetivos. A crença em Deus das atletas pesquisadas, embora sofra influência da religião familiar predominante, é exercida a sua maneira, subjetiva e individualmente e fornece suporte psicológico para a maioria das atletas ao ajudar a lidar com os constantes desafios da carreira esportiva promovendo resiliência, autoconfiança e esperança. Enquanto que a não crença é vista como um forma de ter mais autonomia no esporte, mais autonomia para agir no mundo sem precisar prestar conta ou esperar pela intervenção de um ser superior. As tendências de comportamentos das atletas, envolvidas com as orientações religiosas, são tão plurais quanto suas crenças, uma vez que a bricolagem de crenças e religiões é feita mais individualmente e menos coletivamente
 

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