Resumo

Os atores sociais da pesquisa são os mais presentes e invisíveis da sociedade: os
apenados. Estes estigmatizados socialmente, não se constituem em alvo das
preocupações da sociedade brasileira; pois a penitenciária, local onde habitam, é
considerada tradicionalmente como um "canto escuro" da sociedade, lugar de
marginais, onerosa e dispendiosa para o Estado que, por sua vez, não revela interesse
para que essa imagem seja modificada. Entretanto, tal mudança é possível por meio
de uma política eficaz que oportunize a ressocialização e, consequentemente, o
retorno do apenado ao convívio social. Para isso, torna-se urgente o cumprimento
da pena de forma humanitária. O desenvolvimento de práticas de lazer pelos apenados
contribui para que tal propósito seja alcançado. Assim, com base nos princípios do
lazer e na compreensão de que este consiste em práticas instituídas no imaginário
dos homens como vivência de liberdade, procurou-se responder ao seguinte
questionamento: De que maneira indivíduos submetidos a regras disciplinares
repressivas na penitenciária realizam e constroem suas representações sobre espaço
e tempo para práticas de lazer? Para a realização da pesquisa, de natureza qualitativa,
usamos os apenados da Penitenciária Estadual de Foz do Iguaçu - PR. Realizamos
entrevista gravadas com o consentimento dos apenados selecionados pela direção
da penitenciária. Procuramos fazer emergir dos discursos dos mesmos, seus silêncios
e suas (re)significações de tempo, espaço e práticas de lazer intramuros. A partir dos
dados coletados e analisados podemos concluir que os apenados com maior tempo
de reclusão representam suas celas como um espaço livre onde podem decidir o que
fazer. Apenados com até um ano de reclusão representam o lazer vinculado às suas
práticas de vida extramuros, o que faz que não consigam (re)significar o espaço e o
tempo na prisão. Para os apenados as práticas de lazer mais relevantes são as leituras
nas celas, os momentos religiosos e a visita dos familiares. O jogo de futebol é o
mundo da transferência, compreendida pelos mesmos como um espaço e tempo
de liberdade, o que os leva a representarem a quadra como mundo livre - campo da
liberdade: ".ali em não to preso". Portanto, a quadra trata-se do espaço do sagrado
para os atores dessa pesquisa, pois é nela que produzem seus sonhos e devaneios.
Nela transformam-se em senhores de seus sonhos, sem perder a consciência de que
sua realidade objetiva e subjetiva se encontram intramuros

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