Resumo

A aprendizagem motora é um processo desencadeado pelo treino, que envolve inúmeras mudanças sinápticas que, inicialmente, são temporárias e depois, com a continuidade do estímulo, consolidam-se definitivamente. Como tal processo não pode ser mensurado diretamente in vivo, as medidas tomadas como evidências da sua consolidação são comportamentais, ou seja, medidas de alteração de desempenho desencadeadas pelo treino. Um maior conhecimento a respeito dos fatores que interferem no processo de aprendizagem motora é de extrema importância para todas as ciências que estudam os efeitos do treino motor, tais como Pedagogia, Educação Física, Terapia Ocupacional, Fisioterapia, entre outras, à medida que permitem a implantação de abordagens mais específicas. Dentre vários fatores importantes, esse estudo elegeu a idade, já que, atualmente, não é claro como diferenciar o treino para crianças em diferentes faixas etárias. A indagação a respeito dos possíveis efeitos da idade sobre o processo sustenta-se no fato que o cérebro humano, ao nascimento, não se encontra completamente desenvolvido, o que só será alcançado, aproximadamente, duas décadas depois. Assim, sendo o processo de aprendizagem dependente de várias estruturas cerebrais, funcionando de forma complexa e sincrônica, é plausível supor que crianças em diferentes estágios maturacionais do Sistema Nervoso, sob as mesmas condições de treino, alcancem diferentes desempenhos. Dessa forma, o objetivo desse trabalho foi, por meio da análise do desempenho de uma nova tarefa, investigar possíveis diferenças no processo de aprendizagem motora entre crianças saudáveis de 6 e 10 anos. Para isso, foi comparado o desempenho motor em uma tarefa de oposição de dedos da mão, em duas diferentes seqüências, uma treinada por meio de 4 blocos de 600 movimentos e outra tomada como controle, entre um grupo de 16 crianças com idade de seis anos (6,5+0,2) e outro composto por dez crianças com idade entre 9 e 10 anos (9,6+0.50). O desempenho para ambas as seqüências foi tomado em 6 diferentes momentos: antes, 2 minutos, 4, 7, 14 e 28 dias depois da sessão de treino e então, analisado estatisticamente por meio da ANOVA para medidas repetidas. Os resultados obtidos durante o treino mostraram que, em termos de velocidade de oposição de dedos, as crianças menores apresentavam, inicialmente, uma lentidão que desapareceu após as primeiras 600 repetições. Já a análise do desempenho dos mesmos movimentos dentro de uma seqüência específica mostrou o comportamento oposto: as crianças menores, inicialmente, apresentavam o mesmo desempenho em comparação às mais velhas, mas, após o primeiro bloco de treino, essas últimas tornaram-se progressivamente mais eficientes no aproveitamento do treinamento. A análise dos resultados obtidos com a seqüência tomada como controle mostrou que as crianças menores apresentaram dificuldade em generalizar a aprendizagem para a seqüência reversa. Tomados em conjunto, esses resultados indicam diferenças no aproveitamento do treino entre crianças de 6 e 10 anos, discutidas nesse estudo como associadas principalmente a diferenças nas funções cognitivas envolvidas na construção da habilidade, coerentes com as diferenças maturacionais do Sistema Nervoso esperadas entre essas idades.

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