Apresentação

Parte de Para Que Servem as Escolas? . páginas 9

Resumo

Da personalidade riquíssima, multifacetada — e muitas vezes des-concertante de Lauro de Oliveira Lima — destaco aquela característica que mais me marcou e fascinou: a do pioneiro. Emprego o termo querendo pôr em relevo o seu caráter mais essencial. Designo aquele desbravador que está fora do tempo, do seu tempo, antecipando-o, e, portanto, chocando-se, porque o novo incomoda, a dúvida incomoda e as mudanças são sempre perigosas para os inseguros.

Assim, o pioneiro, qualquer pioneiro, é, por definição de um guache, uma amolação, poisa sua efervescência, por si só, denuncia a pasmaceira, a renovação denuncia o comodismo, o revolucionarismo denun-cia o conservadorismo. Encontro agora o ponto mais distintivo de Lauro: sem ser necessariamente um homem de esquerda — e eu o conheci udenista — foi sempre e é um anticonservador por excelência, um demolidor da paz, da "ordem natural das coisas", do "estava-constituí-do", do status quo. Uma onda de vento espalhando a papelada bem arrumadinha da burocracia, um redemoinho na ordem preestabelecida. Incomodando, portanto. Esse papel de um quase iconoclasta não deriva de boutade. Ora, ocorre que o assentado necessita da imobilidade, e Lauro jamais se arrefeceu diante das resistências. Eu sempre o vi abrindo caminho, forçando passagens, brigando, discutindo, reclaman-do, mas, acima de tudo, confiando no outro, estimulando-o, sinceramen-te convencido de sua missão de construtor. Construtor de homens. Este o grande mérito de sua pedagogia. 

...................................
Roberto Amaral. Jornalista, escritor, ensaísta e ficcionista, dirigente do Partido Socialista Brasileiro. Autor, entre outros livros, de Introdução ao estudo do Estado e do direito (Forense), Intervencionismo e autoritarismo no Brasil (Difel), Viagem e outras novelas (Brasilien-se), Socialismo, vida, morte e ressurreição (Vozes) e A modernidade no Brasil: conciliação e ruptura (Vozes). 

Arquivo