Resumo

Reconhecidamente crianças com dificuldades motoras têm sido alvo de preocupação por parte de pesquisadores de várias áreas. Na literatura são apontadas várias causas para as dificuldades desses indivíduos. Dentre elas, é possível destacar problemas de percepção visual, cinestésica, memória e também dificuldades para a formação de programas de ação. As dificuldades para a formação de programas de ação podem representar um grande entrave ao processo de aquisição de habilidades motoras desses indivíduos. O presente trabalho teve por objetivo investigar o processo de aquisição de habilidades motoras de crianças com dificuldades motoras. A premissa desse estudo é a de que o processo de aquisição de habilidades motoras depende da formação de um programa de ação organizado hierarquicamente em macro e micro-estrutura. Para tanto, 45 crianças com média de idade de 9,4 anos tomaram parte desse estudo. Essas crianças foram divididas em três grupos: GD (grupo de dificuldades motoras severas = 15 sujeitos); GR (grupo de risco = 15 sujeitos) e GN (grupo controle formado por indivíduos normais). Foram realizados dois experimentos. O primeiro experimento teve o intuito de identificar e caracterizar os platôs de desempenho dos diferentes a partir da prática. A tarefa consistiu em reproduzir a letra y cursiva por cem tentativas. Foram utilizadas medidas como o número de erros de legibilidade, erro espacial linear, velocidade de execução, controle de força e de velocidade na escrita. Foram utilizadas também medidas que representassem de forma efetiva as características invariantes do programa de ação, tais como, número de fragmentos em que os sujeitos dividiram o padrão gráfico, variabilidade do número de fragmentos, tempo e tamanho relativo do primeiro fragmento da figura. Genericamente, os resultados apontaram que, em comparação às crianças normais, as crianças com dificuldades motoras apresentaram mais erros de legibilidade e não apresentaram um desempenho tão regular nas demais medidas de desempenho. Também houve tendência desse grupo apresentar maior variabilidade de medidas como a fragmentação e a variabilidade do número de fragmentos. Essas constatações sugerem dificuldades na formação de programas de ação. O segundo experimento teve a intenção de submeter os indivíduos a diferentes perturbações, tendo em vista a testagem da estabilidade do programa de ação. A primeira perturbação foi a execução da tarefa na ausência de feedback visual. A segunda perturbação correspondeu a executar o padrão gráfico ykw de forma cursiva. A respostas à primeira e à segunda perturbação foram semelhantes entre os grupos, na maior parte das variáveis, embora indivíduos com dificuldades motoras severas apresentassem maior variabilidade e nível de desempenho inferior em todas elas

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