Resumo

Entre as décadas de 1920 e 1960 a Educação Física brasileira estabeleceu importantes conexões com países vizinhos, notadamente a Argentina e o Uruguai, embora tais aproximações sejam, ainda, pouco exploradas pela historiografia ou mesmo eclipsadas por argumento de que a produção realizada no Brasil dialogava predominantemente com sujeitos e métodos europeus ou norte-americanos. Partindo de tal premissa, nesse estudo busca-se identificar e problematizar relações constituídas entre brasileiros e uruguaios no processo de afirmação e desenvolvimento da Educação Física como prática social e escolar, desde as primeiras décadas do sec. XX. A criação de espaços urbanos para o exercício corporal, as práticas de ginástica e esportes, a recreação como dimensão constitutiva da saúde e da higiene, entre outros, são alguns dos eixos temáticos que permearam intercâmbios de formação de professores e delinearam modelagens para a Educação Física nos dois países.  Do ponto de vista teórico metodológico, a investigação opera em duas perspectivas complementares. Priorizando analisar o caráter plural das práticas culturais (compreendendo-as como sucessivos processos de circulação e apropriação), os pressupostos da “história conectada” contribuem na verificação e análise da complexidade e da interdependência entre percursos nacionais e regionais (SOUZA, 1016; GRUZINKI, 2015). Também merecem problematizações os mediadores culturais (sujeitos, livros, objetos, etc.), bem como as maneiras como os educadores fizeram circular os impressos, provocando inventivos processos de recepção e apropriação de modelos. Muitos brasileiros foram estudar no Uruguai e suas trajetórias merecem ser investigadas. Em outra perspectiva metodológica, complementar à primeira, o estudo também considerada a pesquisa arquivística capaz de fundamentar as escolhas a serem adotadas nos processos de organização documental, contribuirá na elucidação dos entrelaçamentos (NASCIMENTO, LINHALES, 2013). Os arquivos estabelecidos no Centro de Memória da Educação Física, do Esporte e do Lazer (Cemef), na UFMG, e no Centro de Memoria de Educacion Física (CEMEF), na UdelaR, serão as principais referências (LINHALES et al, 2017). Em ambas instituições encontram-se arquivos institucionais e coleções privadas com características temporais e tipológicas similares. Estes acervos constituirão os principais pontos de conexão para as fontes históricas e para os diálogos com outros acervos.

Referências

GRUZINSKI, S. O historiador e a mundialização. Texto apresentado na conferência ministrada em 11/06/2007, como participação no Programa Cátedras Fundação Ford. Belo Horizonte: IEAT/UFMG, 2015.

LINHALES, M. A. et. al. Archivos Institucionales para la Historia de la Educación Física en Brasil y Uruguay. Rev. Iberoam. Patrim. Histórico-Educativo, Campinas (SP), v. 3, n. 2, p. 256-271, jul. /dez. 2017.

LINHALES, M. A.; NASCIMENTO, A. (Orgs.). Organizando arquivos, produzindo nexos: a experiência de um Centro de Memória. Belo Horizonte: Fino Traço, 2013.

SOUZA, R. F. Cruzando fronteiras regionais: repensando a história comparada da educação em âmbito nacional. Rev. Bras. Educ. [online]. 2016, vol.21, n.67, pp.833-850.

Fonte de financiamento: FAPEMIG - EDITAL 001/2017 – Processo - CHE - APQ-02243-17.