Resumo

O presente trabalho analisa o comportamento de cinco senhoras idosas frente ao seu ofício. Imigrantes da Ilha da Madeira, bordadeiras desde a infância, elas deixaram o país de origem em companhia dos maridos, na primeira metade do século XX, movidas pelo sonho de uma vida próspera no Novo Mundo. Desde que chegaram ao Brasil, moram na encosta do Morro São Bento, em Santos, Estado de São Paulo. O linho e a linha, incorporados à rotina na casa materna, são ferramentas que vão acompanhá-las durante toda a vida, garantindo algum dinheiro, um pouco de liberdade e muito prazer. Além disso, o bordado ofereceu a elas a chance de reforçar o orçamento doméstico e garantir respeito e a visibilidade em terra estrangeira. No entanto, a atividade que, com tanta intensidade, preencheu a existência dessas mulheres, não despertou o interesse de suas filhas e netas. As gerações seguintes declaram admiração e respeito pelo bordado, mas não quiseram fazer dessa arte o seu ofício. No Morro São Bento, o bordado da Ilha da Madeira é um tesouro sem herdeiros. Indiferença semelhante as ilhoas madeirenses vão perceber na sociedade. Diante das peças bordadas, as pessoas demonstram encantamento e respondem com elogios. Mas a relação compra e venda é estabelecida de forma precária e, assim, parte do sentido da produção se perde. Mesmo diante de tais circunstâncias, essas mulheres mantêm a rotina e trabalham todas as tardes. Cumprem religiosamente o calendário de exposições. E, ao contarem a história de suas vidas, elas deixam claro que bordar é mais do que tarefa, hábito ou obrigação: é com o linho e as linhas que essas mulheres tecem a sua própria identidade. São mulheres, são mães, são avós mas, acima de tudo, elas são e querem permanecer bordadeiras.