Resumo

O objetivo deste estudo, orientado pelo paradigma pessoa-contexto, foi investigar se existe relação entre a qualidade das estruturas interpessoais na família e o nível de desenvolvimento do raciocínio moral de adolescentes de Vale Vêneto, RS. Participaram da investigação 18 famílias com filhos adolescentes, com idade entre 12 e 21 anos. Para caracterizar o macrossistema Vale Vêneto utilizou-se de fontes primárias sobre os principais aspectos da cultura local e entrevistas com os pais dos adolescentes. Para avaliar a maturidade do raciocínio moral dos adolescentes utilizou-se a adaptação brasileira do Sociomoral Reflection Objetive Measure (S.R.O.M), que baseia-se nos pressupostos da Teoria do desenvolvimento moral de Kohlberg. Para analisar a qualidade das estruturas interpessoais utilizou-se um roteiro de entrevistas semi-estruturadas orientadas pelos pressupostos da Teoria dos Sistemas Ecológicos de BRONFENBRENNER (1979). Os resultados demonstraram que o Macrossistema Vale Vêneto parece conservar, principalmente por vontade das pessoas mais idosas, muitos dos hábitos herdados pela cultura italiana; os adolescentes, principalmente através da televisão, passam a conhecer várias oportunidades de um estilo de vida diferente daquele no qual estão inseridos, e a tendência é que eles passem a desejar esse estilo de vida; o padrão de interação social que caracterizava os antepassados desta comunidade está bastante modificado, principalmente com relação ao hábito de visitas entre as famílias antes frequentes, que já não fazem mais parte dos costumes dos moradores entrevistados. Na avaliação do raciocínio moral dos adolescentes 80% dos sujeitos foram classificados no nível de desenvolvimento moral convencional (3o estágio), sendo que os demais apresentaram um raciocínio moral pré-convencional (2o estágio). Desta forma metade do grupo obteve um resultado esperado para sua idade, enquanto que os demais apresentaram resultados abaixo do esperado. Na análise das estruturas interpessoais verificou-se que o equilíbrio de poder foi classificado como fraco na maioria dos microssistemas investigados, tendo em vista que a tomada de decisão sobre a maior parte das atividades diárias que envolvem pais e filhos parece ficar por conta dos pais; as díadas de atividade conjunta também foram classificadas como fracas na maioria das estruturas interpessoais investigadas, uma vez que apareceram com pouca freqüência; a reciprocidade foi outro elemento pouco identificado, sendo classificada como fraca na maior parte das estruturas interpessoais; a afetividade parece estar melhor entre os adolescentes e as mães, quando comparadas com os pais, embora, talvez por influência da cultura, tenham sido consideradas fracas de uma forma geral. A análise destes resultados nos permitiram concluir que parece haver uma relação entre o raciocínio moral dos adolescentes e as estruturas interpessoais familiares. Diante disso, podemos supor que modificações que tornem mais ricas essas estruturas interpessoais, poderiam contribuir para o desenvolvimento de um raciocínio moral mais elaborado dos adolescentes investigados.

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