Integra

Na sequência das experiências vividas na Colômbia, nas últimas (quase) três décadas, gostaria de compartilhar com vocês os temas que tive a oportunidade de abordar durante a EXPORECREACIÓN2017. O primeiro deles, conforme pode ser observado no título acima, guarda certa complexidade, especialmente nos dias de hoje, nos quais esses quatro elementos representam mais semelhanças do que diferenças.

Também no campo do lazer, vivemos uma era de crescentes mudanças. Joffre Dumazedier, considerado o “pai” da sociologia do lazer, já há quatro décadas, propunha, de certa forma idealista, que estávamos caminhando para uma “civilização do lazer”, tendo como forte argumento as mudanças, cada vez mais aceleradas, nas relações do ser humano consigo mesmo, com o próximo e com o meio ambiente. Para justificar a crescente presença do lazer na esfera humana, o autor ponderava que estávamos, transitando de uma “ética da repressão para uma ética da expressão” em relação a nós mesmos, tendo a liberdade como eixo fundamental. No relacionamento com o próximo, estaríamos evoluindo para uma ligação pautada mais pela espontaneidade e gratuidade do que possíveis interesses externos, o que abriria espaço para outra dimensão fundamental do lazer que é a livre escolha. Finalmente, na relação com a natureza o autor francês previa que estaríamos mudando de uma visão pautada pela devastação em busca do progresso a qualquer custo para a preocupação com a conservação e preservação do meio ambiente, ensejando novas possibilidades de ocupação dos espaços públicos para o lazer das pessoas. Essa “tríade” de relações deveria, portanto, abrir um espaço privilegiado para a vivência das experiências de lazer na perspectiva de uma vida com melhor qualidade para todos.

Passado o período dessas previsões, é inegável que o lazer ocupou novos espaços na formulação de políticas sociais, resultando em investimentos concretos – apesar de aquém das reais necessidades – para que mais pessoas e instituições reduzissem seu preconceito em relação a essa importante dimensão da vida humana. No entanto, as mudanças ocorridas ao longo desse tempo e a velocidade com que as mesmas ocorreram, nos revelam um presente-futuro difícil de imaginar quando se trata da implementação de políticas públicas nessa área que possam contribuir para o desenvolvimento sustentável nas três dimensões aqui apresentadas.

O mundo contemporâneo, complexo, hiperconectado, disruptivo, polarizado, com enfrentamentos entre o local e o global, o populismo político que combate a pluralidade, o protecionismo exacerbado, o baixo crescimento mundial, a transição demográfica, a substituição da força de trabalho humano que ameaça o futuro de algumas profissões, o compromisso internacional de redução da poluição como um todo com resultados ainda incertos, o combate aos crimes de corrupção praticados por políticos nas diversas regiões do mundo, entre tantas outras variáveis, se apresentam como pano de fundo para refletirmos e, mais do isso, agirmos para que o lazer contribua muito mais para o SER humano do que o TER humano.

Esta apresentação abordou cada um dos construtos Lazer, Felicidade, Saúde e Bem-estar com recomendações para os avanços necessários na formulação e aplicação de políticas públicas, visando o seu desenvolvimento. Ao final, buscamos respostas à pergunta: como a vivência do lazer poderá contribuir para um ser humano melhor para si e para a sua comunidade?