Resumo

A participação das mulheres brasileiras no esporte principiou em meados do século XIX, no entanto foi a partir das primeiras décadas do século XX que se ampliou, adquirindo maior visibilidade no cenário urbano. O desenvolvimento industrial, as novas tecnologias, a urbanização das cidades, a chegada de imigrantes e o fortalecimento do Estado demandaram o surgimento de novas possibilidades culturais, reconfigurando o espaço público com a apropriação de distintos grupos sociais. Junto com essas mudanças, ecoavam as lutas femininas empreendidas na Europa, as quais projetaram novas perspectivas para as mulheres brasileiras, dentre elas, uma maior presença na vida social das cidades. Obviamente, essa perspectiva foi mais significativa para as mulheres das elites, que já frequentavam as rodas de intelectuais, festas e eventos sociais e para quem o esporte se consolidou como uma acessível opção de divertimento. Nas primeiras décadas do século XX, proliferaram os clubes recreativos, as agremiações, as demonstrações atléticas, os clubes de ginástica, os certames esportivos e os parques de lazer, multiplicando o número de espectadores e participantes de modo a imprimir nas cidades a imagem do espetáculo. Considerado de caráter aristocrático, familiar e saudável, o esporte passou a ser incentivado pelos médicos higienistas, que se encarregaram de divulgá-lo ao conjunto da população, visto que exerciam grande influência na intimidade das famílias. Foi em nome da educação física, moral,sexual e social da sociedade brasileira que estes médicos prescreveram normas de comportamento, orientando a conduta de mulheres e homens sobre o asseio, os banhos, as vestimentas, os hábitos alimentares e a realização de atividades físicas. Esse discurso, aliado ao da construção de um projeto de engrandecimento da nação, foi acolhido por intelectuais, militares, pedagogos e juristas, que referenciavam o esportecomo uma forma privilegiada de desenvolver as virtudes da raça e a saúde da população. Essa representação atingiu diretamente as mulheres, pois o fortalecimento do seu corpo foi associado ao futuro do país, na medida em que se entendia que a preservação e a constituição de uma boa maternidade conduziriam à regeneração da sociedade e à formação de gerações futuras fortes, robustas e saudáveis.

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