Resumo

RESUMO Não era propriamente novidade, nos finais do Antigo Regime, a preocupação relativa ao bem-estar e ao equilíbrio do corpo. De facto, médicos e cirurgiões portugueses do séc. XVIII bem consideraram o exercício físico como especialmente importante para a conservação da saúde das pessoas. No entanto, nas obras médicas e cirúrgicas da primeira metade do século, a preocupação dominante, senão a única, era a da preservação da saúde. Raramente, nelas se encontrava a preocupação com o desenvolvimento integral do indivíduo. Ora, na segunda metade do séc. XVIII, os médicos e pedagogos passaram a olhar a Educação Física como uma condição fundamental do desenvolvimento global do ser humano. Neste sentido, o exercício já não era particularmente entendido apenas como necessário à preservação da saúde, mas igualmente como factor de desenvolvimento físico, pilar importante da formação moral. A partir destas ideias, analisámos alguns documentos relativos a instituições educativas Portuguesas, tentando verificar quais as disposições implicadoras com o desenvolvimento do corpo dos alunos. Foi ainda nossa intenção constatar se havia uniformidade nessas disposições, bem como se nelas se reflectiam diferentes concepções educativas. Ora, da análise sobre as ideias e as práticas relativas à educação física, nos finais da segunda metade do séc. XVIII, vimos que elas se desenvolviam de acordo com duas tendências: de um lado, as práticas físicas e os jogos legados pela tradição e, do outro, concepções médicas e pedagógicas mais atentas às condições de desenvolvimento dos indivíduos, que se concretizavam em actividades de descontracção e de formação do corpo pensadas para se articularem com as de natureza intelectual. No entanto, as disposições contempladas nos planos de estudos dos colégios indicavam que se privilegiava uma concepção de educação física fundamentalmente higiénica ou tradicional, orientada por técnicas corporais de uma minoria social privilegiada, para quem o corpo se devia conformar a critérios de elegância, definidos por gestos plenos de formalismos, e também práticas corporais fundamentadas em preocupações higiénicas e pedagógicas, válidas para o desenvolvimento da população em geral. Palavras-chave: práticas físicas, Antigo Regime, Educação Física, desenvolvimento do corpo, colégios portugueses.