Resumo

Em diversas descrições da criança com autismo é salientado que o modo de se relacionar e brincar dessas crianças se apresenta de forma muito restrita e bastante peculiar, devido ao grave comprometimento geral de seu psiquismo. Essa situação direcionou este estudo para os aspectos relacionais de criança s com autismo considerando que os fatores biológicos não são imutáveis. As transformações comportamentais ocorrem a partir da inserção dessas crianças em ambientes socioculturais e na crença do potencial humano. Assim, o estudo objetiva compreender os aspectos relacionais de crianças com autismo em uma brinquedoteca universitária. Em destaque, esta pesquisa busca identificar as relações da criança com autismo com os adultos em um contexto inclusivo e analisar os aspectos relacionais da criança com autismo com os colegas na realização de brincadeiras. Trata se de uma pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso, tendo por base a abordagem histórico cultural. Para proceder ao estudo de campo, utiliza a base de dados organizada pelo orientador deste estudo que realiza uma pesquisa mais ampla intitulada “O brincar da criança com autismo na brinquedoteca: inclusão, mediação pedagógica e linguagem”, que teve início em março de 2016, com duração de três anos. O banco de dados organizado contém 24 aulas realizadas durante o período de março a novembro de 2016, com registro s em videogravação; em diário de campo, fotografias e entrevista semiestruturada realizada com os familiares das crianças com autismo integrantes da proposta. Os participantes foram 17 crianças, com idades de três a seis anos dez crianças não deficientes de um Centro de Educação Infantil, seis com autismo e uma com síndrome de Down, pertencentes ao município de Vitória/ES. Elas foram atendidas por 13 estagiários do Curso de Educação Física, em um encontro semanal, todas as quintas feiras, das 14 às 15 horas. Durante as intervenções, os estagiários assumiam funções de conduzir a aula, acompanhar as crianças com deficiência e registrar as atividades por meio de videogravação e fotografias. Diante das observações dos dados, duas categorias apareceram de forma recorrente na fase de investigação, a saber: a constituição de vínculos, para analisar a interação da criança com autismo com o adulto em situação de brincadeira; e a dimensão corporal em sua subcategoria espaço-tempo vivencial da criança com autismo na relação com os colegas em situação de brincadeiras, para analisar a interação da criança com autismo com os colegas. Os resultados mostram que na categoria de constituição de vínculos o que se percebe é que enquanto a criança com autismo não estabelece vínculo com o adulto, sua ação no meio fica empobrecida, limitada somente aos seus interesses; e quando a criança com autismo mantém uma relação de vínculo com o adulto, sua ação no meio se enriquece, ampliando suas possibilidades de sentir, pensar e agir. Da categoria da dimensão corporal, após configurar o vínculo com o adulto, amplia se, então, a interação da criança com autismo com os seus pares, brinquedos e brincadeiras. Por meio da análise proxêmica, isto é, análise da ocupação pessoal do espaço social pelos sujeitos, percebe se que há um distanciamento social das crianças com autismo em relação aos pares. Porém, foram identificadas algumas situações e ações que contribuíram para reduzir essa distância física para os níveis pessoal e íntimo a saber: as atitudes solidárias e de amizade, o estabelecimento de novas amizade, a problematização da questão da diferença/diversidade e as ações colaborativas. O estudo é revelador de que, ao inserir nas ações pedagógicas a interação entre crianças com e sem deficiência/autismo, exige se recuperar valores e conhecimentos que incluem o corpo e suas expressões, o movimento, o gesto, o afeto, as emoções, a ludicidade e o encantamento, como também valores e conhecimentos capazes de lidar com as diferenças. Portanto, é importante motivar as crianças a aprender pelo campo da significação, incluindo as contribuições que elas podem dar a partir de suas vivências, tendo a brincadeira como mo la propulsora no que se refere à interação das crianças.

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