Resumo

A hipertensão arterial é considerada, isoladamente, como um importante fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Tal fato torna-se preocupante especialmente quando a pressão arterial elevada (PAE) já se manifesta na infância e adolescência. Diante disso, este período que é marcado por inúmeras transformações morfológicas, fisiológicas e comportamentais, a relação entre PAE e maturação biológica ainda necessita ser investigada. Da mesma forma, fatores considerados modificáveis como obesidade, consumo de fumo e álcool, atividade física entre outros, também podem estar relacionados com a PAE, não só em adultos, como também em adolescentes. Entretanto, não está totalmente esclarecida na literatura a associação isolada desses fatores com a PAE. Assim, os objetivos do estudo foram a) analisar se a possível associação entre maturação somática e a PAE pode ser mediada pela gordura corporal ou outros importantes fatores independentes; b) verificar a relação entre pressão arterial em repouso e variáveis comportamentais em adolescentes de uma cidade da região sul do Brasil. Participaram do estudo 1147 adolescentes de ambos os sexos, com idades entre 10 a 17 anos, matriculados em escolas públicas da zona urbana do município de Londrina. Medidas antropométricas, pressão arterial em repouso, informações sobre nível habitual de atividade física e comportamentos de risco foram obtidas em um delineamento transversal. Para análise dos dados, utilizou-se de estatística descritiva e as comparações entre estes valores foram efetuados pelo teste U de Mann-Whitney. As associações entre os dados categóricos foram efetuadas pelo teste de Qui-quadrado e a correlação de Spearman foi utilizada para analisar o relacionamento bruto entre as variáveis contínuas envolvidas no estudo. As variáveis que alcançaram significância estatística foram inseridas no modelo multivariado construído (regressão logística binária). Meninas com circunferência de cintura maior apresentaram mais chances de ter PAE (OR= 2,05[ORIC95%=1,10-3,82]). Por outro lado, meninos com maior percentual de gordura corporal apresentaram maiores chances de ter PAE (OR= 2,34[ORIC95%=1,03-5,33]). Apresentar idade do pico de velocidade de crescimento menor foi positivamente associado à maior ocorrência de PAE apenas para os jovens do sexo masculino (OR= 1,38[ORIC95%=1,18-1,62]). Em relação às variáveis comportamentais observou-se que a prática esportiva atual foi relacionada com menores valores de PAD (β= -0.13 [βIC95%: -0.24; -0.03]), ao passo que, a cada hora semanal assistindo TV observa-se um incremento em 0,10 mmHg na PAD (β= 0.10 [βIC95%: 0.03; 0.17]). A manutenção da prática esportiva da infância para a adolescência relacionou-se com PAS (β= -0.98 [βIC95%: -1.80; -0.17]), PAD (β= -0.77 [βIC95%: -1.39; -0.16]) e PAM (β= -0.84 [βIC95%: -1.45; -0.24]). Assim, tais achados podem auxiliar na adoção de estratégias de prevenção e monitoramento no que diz respeito ao ganho de peso corporal desde a infância não só nas comunidades, mas principalmente no ambiente escolar. Além disso, promover estratégias para o aumento da prática esportiva desde a infância e manutenção ao longo da vida também podem contribuir para evitar o desenvolvimento dos fatores de risco cardiovascular. 

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