Integra

Introdução

A Alfabetização deve ser um processo de desenvolvimento do ser humano ao longo da sua vida. Nos termos de Paulo Freire, "a alfabetização é um processo contínuo com as inerentes invenções e reinvenções; é uma investigação contínua" (ano). Entretanto, a educação deve transformar o ser humano num ser crítico e persistente com rumo à melhoria da sua qualidade de vida. A escola deve priorizar a humanização como tarefa contínua e criativa; levando em conta a visão crítica e dinâmica do ser humano, deve se auto-avaliar e ser auto-crítico e a escola deve dar condições para isso.

É de suma importância que a escola reconheça e valorize as referências absorvidas por cada aluno, antes da sua entrada na escola.

Essa percepção da escola deve levar em conta o desenvolvimento afetivo do aluno e corrigi-lo se necessário. A escola deve adaptar-se ao aluno, respeitando o seu individualismo e a sua cultura.

O senso crítico e auto-crítico de cada ser humano e a sua integração na sociedade, que a todo o momento o influência, faz dele um ser com conhecimento, mesmo que ele não seja alfabetizado, até porque a visão de cada um estimula o pensamento e sabemos que todo o pensamento busca realizar-se, dentro da sua ideologia de vida, para o bem ou para o mal.

Então para Paulo Freire "a ignorância absoluta não existe" e "o ato de escrever é mais demandante do que o de pensar sem escrever".

Tanto a leitura como a escrita devem estar a serviço do mundo. Não basta um aluno estar alfabetizado para que ocorra uma transformação.

Segundo Freire e Macedo, "Ser a palavra e aprender como escrever a palavra de modo que alguém possa lê-la depois, é precedido do aprender como escrever o mundo, isto é, ter a experiência de mudar o mundo e de estar em contato com o mundo" (ANO: PÁGINA).

Alfabetização em foco

Alfabetização e letramento, distinções: O letramento refere-se às práticas sociais que os indivíduos trocam a partir ou não de sua alfabetização.A sociedade exerce forte e ampla influência sobre o indivíduo, que dificilmente consegue fugir desta interação. Nas palavras de (TFOUNI, 2002) in Silva e Silva (2004):

A alfabetização refere-se à aquisição da escrita enquanto aprendizagem de habilidades para leitura, escrita e as chamadas práticas de linguagem. (...) O letramento, por sua vez, focaliza os aspectos sócio-históricos da aquisição da escrita. (...) Desse modo, o letramento tem por objetivo investigar não somente quem é alfabetizado, mas também quem não é alfabetizado, e, nesse sentido, desliga-se de verificar o individual e centraliza-se no social.

Ao falarmos de alfabetização e cidadania, quando encaramos a alfabetização, a partir dela torna-se possível uma tomada de consciência das estruturas sociais. A vida é um permanente estágio de fazer e refazer e dessa forma os educandos são convidados a pensar e a atuar, pois, a alfabetização envolve a compreensão crítica da realidade.

A educação física no contexto da alfabetização

O trabalho de Educação Física tem muita influência na alfabetização, pois nas séries iniciais do Ensino Fundamental possibilita aos alunos desenvolver as habilidades da cultura corporal. O conteúdo das aulas está diferenciado ao incentivo de senso crítico e da visão de mundo. Dentro das aulas de Educação Física, podemos relevar os espaços que surgem para a ação e também para a reflexão. Quanto à organização dos conteúdos, eles se organizam em conceituais (fatos, princípios e conceitos) = saber- sobre; procedimentais (ligados à prática) = saber - fazer e atitudinais (normas, valores e atitudes, ética) = de saber ser; que estão ligadas à predisposição, à cooperação e solidariedade e valorização da cultura popular e nacional.

Dentro da Educação Física o jogo é considerado muito importante no desenvolvimento da criança; ampliando a sua capacidade de interagir, e de comunicação. Estimula ainda o desenvolvimento das capacidades de pensamento e a criatividade infantil; além de ser fator de desenvolvimento da força, do controle muscular, do equilíbrio orgânico, físico e psicológico da criança. O jogo é um espaço educativo fundamental da infância e auxilia no processo de ensino - aprendizagem de muitas áreas, inclusive leitura e escrita. Os jogos contribuem também para as crianças desenvolverem a sua capacidade de imaginação e interpretação. Nestas áreas destacam-se os jogos com palavras, e com lápis e papel; que mais auxiliam no processo de alfabetizar, no desenvolvimento do aluno e no aspecto da coordenação motora fina.

A construção do pensamento

Ao longo dos anos a escrita veio se desenvolvendo como um sistema de construção de representações, nunca como a transcrição de códigos. Na fase da alfabetização, a maioria das crianças apresenta dificuldades, típicas de quem está construindo um sistema. Elas não criam novas letras ou números, porém tentam compreender as regras de produção deste sistema.

Quando a criança começa a produzir, é necessário que o professor faça a interpretação deste material, pois segundo estudos, as produções espontâneas de uma criança, são o material mais rico que ela pode nos oferecer e devem ser analisados com grande especificidade. A criança constrói em sua mente a concepção do que para ela seria a realidade, isto é, o saber, que pode ou não coincidir com o "saber socialmente válido".

Inicialmente as escritas infantis levam em consideração os aspectos gráficos (formas como bolas e traços); depois se desenvolvem os aspectos construtivos, o que a criança quis dizer com seus desenhos ou "rabiscos". Temos que observar, sob a perspectiva da criança, nunca como adulto. Cada criança tem dentro de si um grande potencial de ensino e de grande aprendizado, nós professores temos que ajudá-los a entender que o conhecimento nem sempre vem de fora, pode vir da própria criança. Temos que estimulá-las sempre e não tratá-las como receptoras mecânicas com seus potenciais reprimidos.

A escrita terá base nas vivências particulares de cada criança, por isso a importância das experiências sócio-afetivas, motoras e visuais; estas proporcionarão mais capacidade e facilidade de familiarização com a escrita.

A formação do professor de educação física e a alfabetização

Os profissionais de Educação Física não se apresentam preparados para atuarem com crianças em fase de alfabetização, muitos deles sem conhecimentos de conceitos necessários para auxiliarem a criança nesta descoberta do mundo letrado.

O fato dos professores de Educação Física não em sua formação a capacitação adequada para atuarem com crianças em processo alfabetizador o que não os impede de trabalharem com tal público. Pois, para isso o profissional pode fazer opções para serem inseridos em um trabalho sério em conjunto com a professora regente, desde que eles façam um complemento na sua formação, podendo ser através de matérias eletivas, cursos de capacitação profissional, cursos de formação continuada e cursos de pós-graduação e etc.

Como vimos conceitos básicos de alfabetização e letramento são indispensáveis para que possamos aplicar nossas atividades de maneira eficiente e eficaz, onde todas as crianças sejam capazes de realizarem as atividades propostas pelo professor, galgando a cada o caminho da alfabetização e do movimento.

No estudo apresentado por Silva (2004) a Educação Física e a alfabetização caminham juntas na construção da cidadania da criança, auxiliando uma a outra neste processo de construção da alfabetização grafocêntrica e do corpo (FREIRE, 2005) contudo este processo de auxílio mútuo deve ser realizado respeitando a individualidade de cada criança, sua cultura, suas características pessoais e sócio-afetivas, ou seja o que ela traz de casa., seu conhecimento de vida adquirido até então.

As aulas que são ministradas nas universidades de educação física deixam a desejar no que diz respeito á alfabetização, pois precisam de um conhecimento específico e direcionado de como alfabetizar? Porém, o próprio formando pode buscar conhecimentos, além do que existe no contexto curricular da Universidade. São várias atividades que podem trabalhar os movimentos do corpo, que poderiam ser enfatizadas nas disciplinas, ou seja a interdiciplinariedade. Por que não aproveitar a combinação do lúdico, com as aulas de Educação Física, seria a maneira mais prazerosa para uma criança apreender a ler e escrever. Aproveitando e unindo o prazer que as crianças sentem em fazer nossas aulas e organizar metodologias de atividades que possam contribuir para a sua alfabetização.


 Considerações finais

É de grande relevância ressaltarmos que este estudo contribui para melhor formação de cidadãos. Cabe as instituições desenvolverem uma metodologia de ensino que amplie uma visão de qualificação melhor de ensino na alfabetização, através do desenvolvimento motor da criança. Cabendo também os educandos buscarem sempre conhecimentos que criem atividades e diversifiquem, utilizando de métodos de ensino, que possibilitem a educação, através dos movimentos.

Obs. Os autores, Márcia Regina Santos de Assis, Elaine dos Santos Cordeiro e Ernandes Batista de Sá são graduandos da UNIABEU

Referências bibliográficas

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  • Ferreiro, Emília. Reflexões sobre Alfabetização. 24ª ed. São Paulo: Cortez Editora, 2001.
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  • ¬¬¬__________. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 7ª ed. São Paulo:Paz e Terra, 1996.
  • ¬¬¬__________. Professora sim, tia não: Cartas a quem ousa ensinar. 12ª ed. São Paulo: Olho D’Água, 2002.
  • ¬¬¬__________ Macedo, Donaldo. Alfabetização: leitura do mundo, leitura da palavra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
  • Oliveira, Y.; Do ato motor ao ato mental: a gênese da inteligência segundo Vygotsky. In: La Taille, Y.; Oliveira, M.K.; Dantas, H. Teorias psico-genéticas em discussão. São Paulo, Summus,2003.
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  • Santin, Silvino. Educação Física: temas pedagógicos. Porto Alegre: EST/ESEF, 1992.
  • Silva, Ana Patrícia da; Silva, Jaqueline Luzia. Alfabetização e Educação Física escolar caminho juntas rumo a cidadania. Revista do mestrado da UFS. V - 08. 2004 (no prelo).
  • Soares, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
  • Tfouni, Leda Verdiani. Letramento e Alfabetização. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 2002.
  • Weisz, Telma. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2002.