Resumo

Os estudos sobre as crenças de auto-eficácia fundamentados no referencial da teoria social cognitiva têm revelado contribuições significativas para as áreas da educação, psicologia, medicina, educação física, administração, dentre outras. No cenário educacional, esses estudos têm focalizado sobre as crenças de auto-eficácia dos docentes em diferentes contextos, disciplinas e níveis de ensino. Auto-eficácia docente diz respeito a um julgamento que o professor faz acerca das próprias capacidades para atingir, no domínio do ensino, determinados resultados de aprendizagem e engajamento dos alunos. Este julgamento se constitui pela interpretação cognitiva das informações advindas de quatro fontes: experiências diretas, experiências vicárias, persuasão social e estados fisiológicos e afetivos. A presente investigação situa-se no campo da docência em Educação Física escolar, majoritariamente no ensino fundamental, e teve como objetivos: a) conhecer algumas características relacionadas com o contexto e com a atividade docente; b) identificar e analisar o nível de autoeficácia docente e as fontes de constituição dessa crença; c) correlacionar a autoeficácia docente e as fontes de constituição com algumas variáveis de contexto e da atividade docente. Participaram do estudo 263 docentes com tempo médio de experiência no ensino de 10,6 anos, 84% deles vinculados à instituições públicas de ensino e com carga horária média de 32 aulas por semana. Os dados foram coletados de forma coletiva, em uma única etapa, a partir da aplicação de duas escalas com formato de resposta do tipo Likert de seis pontos e de um questionário de caracterização do participante, da atividade docente e do contexto. Os resultados apontaram que os docentes apresentaram elevada crença de auto-eficácia (m=4,74) para o ensino. As experiências diretas (m=4,85) e a persuasão social (m=4,71) se mostraram como fontes de maior impacto na constituição desta crença. Dentre as variáveis investigadas, a satisfação como docente (r=0,402; p<0,01), a preparação profissional (r=0,367; p<0,01), a infra-estrutura (r=0,228; p<0,01), apoio do corpo administrativo (r=0,257; p<0,01), liberdade para expressar idéias (r=0,130; p<0,05) e apoio dos pares (r=0,151; p<0,05) estiveram positivamente associadas à auto-eficácia. Com relação às fontes, a satisfação como docente esteve positivamente correlacionada com as experiências diretas (r=0,301; p<0,01) e persuasão social (r=0,161; p<0,01). Resultados da regressão múltipla mostraram que 23,5% da variância da escala de auto-eficácia docente pôde ser explicada pela satisfação como docente, preparação para a docência e infra-estrutura destinada à atividade docente. Já, 96% da variância da escala de fontes de auto-eficácia explicaram a inclusão das quatro fontes. A satisfação como docente explicou apenas 4,4% da variância da total da escala de fontes de auto-eficácia docente. Esses resultados são encorajadores à medida que o referencial teórico adotado é recente e pouco explorado na literatura nacional na área da Educação Física. Além disso, fornecem direções importantes para a reflexão sobre os processos de formação e atuação dos docentes de Educação Física no sentido de se buscar compreender a dinâmica e complexa relação entre a crença de auto-eficácia, as fontes de constituição e o contexto em que a prática pedagógica é desenvolvida. 

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