Resumo

Este trabalho tem como objetivo analisar o humor enquanto capital simbólico da editoria de esportes em diferentes mídias situadas no campo jornalístico – seja impresso, rádio, TV ou internet. O objetivo principal é identificar o humor como elemento capaz de criar um nome profissional, promover e estabelecer determinado jornalista na hierarquia profissional, desde que este domine a habilidade de produzir conteúdo jornalístico com elementos humorísticos consagrados (paródia, sátira, ironia, hipérbole, metáfora, ditados populares). Como primeira parte do corpus de análise, por meio da Análise de Conteúdo e Análise do Discurso, utilizamos dois produtos do jornalismo impresso: a Folha de S. Paulo e o diário esportivo Lance!. Os dois veículos foram escolhidos uma vez que representam polos opostos do campo jornalístico e da cobertura esportiva. O primeiro, em seu contrato de leitura com o público, dedica-se a tratar de assuntos sóbrios de “interesse nacional”, como política, economia e internacional e cobre o esporte pelo viés do bastidor, acompanhando política interna dos clubes, entidades esportivas e escândalos de corrupção. Já o segundo se propõe a ser o “jornal do torcedor”, trazendo a dimensão do espetáculo para a cobertura esportiva e dedicando páginas com recursos humorísticos e grafismos que dialoguem com seu leitor-modelo. Para ambos os veículos foram destacados dois períodos de quinze dias de acompanhamento. O primeiro recorte corresponde à cobertura das Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016. Já o segundo recorte é de 5 a 22 de agosto de 2017, que cumpre a função de um período ordinário da cobertura. Os objetos analisados foram os títulos destes dois jornais. Ao todo, em 38 edições, foram analisados 670 títulos de Folha e Lance, conjuntamente. A segunda parte desta pesquisa compreendeu a ida a campo para um total de nove entrevistas com profissionais com cargos de decisão em editorias ou produtos que tratassem do esporte como temática fundamental. Foram entrevistados seis editores de jornais impressos (Folha, Lance!, A Tarde, Correio), um de rádio (Rádio CBN), um de televisão (GloboEsporte) e um de internet (GloboEsporte.com). O objetivo destas entrevistas é lançar luzes nos processos de promoção de repórteres e demais profissionais por meio do domínio da habilidade do humor. Esta pesquisa ancora-se nos estudos do sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002) sobre campo, habitus, sistema de crenças e capital simbólico para compreender o humor como um elemento estruturante da editoria de esportes e um capital compartilhado pelos seus agentes. A parte inicial deste trabalho traz uma abordagem histórica de como o humor foi um elemento de transformação do jornalismo esportivo a partir dos anos 1930, período fervilhante da história do Brasil com o governo Vargas e popularização do rádio como produto de comunicação de massa. A figura do jornalista pernambucano, radicado no Rio de Janeiro, Mário Filho (1908-1966) foi de grande eloquência neste processo de transformação da linguagem esportiva, antes dedicada ao colunismo social e relatos cronológicos de uma partida, e posterior abertura de uma nova dimensão social de compreensão do fenômeno do esporte. Palavras chaves: Humor. Jornalismo esportivo. Editoria de esportes. Campo jornalístico. Capital simbólico. Habitus. 

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