Resumo

Esta dissertação investiga a intricada trama de relações que se tece entre os brinquedos e a cultura, apresentando algumas transformações sócio-culturais que ocorreram desde a sociedade medieval até a sociedade pós-moderna, evidenciando como os traços culturais de cada época, de cada contexto sócio-histórico acabam por revelar-se nos brinquedos. Partimos de Johan Huizinga, que articula o conceito de lúdico ao de cultura, tomando o jogo como a própria essência de outras manifestações culturais. Passamos por Walter Benjamin e Philippe Ariès que apontam elementos da história dos brinquedos, fazendo uma análise da relação entre os brinquedos, a própria infância e o contexto sóciohistórico vigente. Objetos da cultura, os brinquedos capturam e transmitem valores, ideologias, idéias e expectativas do campo social para a infância. Enquanto brinca, a criança apropria-se dessas significações e representações, mas também as modifica. O brincar apresenta-se como ferramenta fundamental através da qual é possível o enlace entre a criança e seu mundo.Nesse encontro entre um objeto da cultura - os brinquedos, e a constituição do sujeito, abordada pelo viés do brincar na infância, vislumbramos a possibilidade de abrir um diálogo fértil, entre a psicanálise e a semiótica. A partir das contribuições da Semiótica da Cultura de Iuri Lotman, consideramos os brinquedos como texto complexo, num sistema semiótico mais amplo, denominado pelo autor de semiosfera. O brincar, ferramenta fundamental para a apropriação que a criança faz de elementos simbólicos da cultura, foi abordado por meio do embasamento conceitual psicanalítico em Sigmund Freud, D.W.Winnicott e Jacques Lacan. Nossos aportes ao campo psicanalítico, visaram, porém, ao que se chamou a psicanálise em extensão , ou seja, uma transposição do campo da clínica psicanalítica, para uma análise das formações culturais, numa operação mais próxima à crítica social. Aprofundamos nossos objetivos, investigando, por fim, a relação entre alguns paradigmas e formações sócio-culturais da pós-modernidade e certas formas em que se apresentam os brinquedos e as brincadeiras no universo contemporâneo. Através da análise de processos semióticos dos brinquedos e da metodologia psicanalítica, propusemos uma leitura e interpretação das posições do sujeito, no caso as crianças, e do laço social, diante dessas novas significações e transformações sociais e culturais. Numa intersecção entre a filosofia e a psicanálise, apoiamo-nos no conceito de multiculturalismo de Slavoj Zizek, em Vladimir Safatle, que analisa a passagem da sociedade moderna da produção para a sociedade pós-moderna do consumo e em Renata Salecl que aponta as novas formas do Outro nesse momento triunfante do capitalismo tardio.

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