Resumo

Introdução: No Brasil existem aproximadamente 44.000 carteiros pedestres (UFSCAR,
1999). Em contraste com este número, são escassos os estudos sobre os problemas
destes trabalhadores. Dessa forma, esse estudo teve como objetivo caracterizar a
atividade profissional de carteiros pedestres, a partir de indicadores relacionados aos
hábitos de trabalho, anamnese ortopédicas e características somato-sensorias. Materiais
e Método:A amostra foi composta por 68 carteiros homens da cidade de São Paulo
(31± 8 anos, 1,73 ± 7,6 m, 71 ± 13 kg). Os voluntários responderam a um questionário
que investigou hábitos de saúde dos pés, nível de atividade física, volume do caminhar
na rotina de trabalho, problemas ortopédicos. Além disso, foram determinadas
variáveis eletrofisiológicas relacionadas à sensibilidade somato-sensorial e tolerância
à dor. Resultados e discussão: Em sua rotina de trabalho, os carteiros caminham em
média 3,2 ± 0,7 horas por dia, percorrem uma distância média diária de 4,12 ± 2,5
km, carregando uma mochila com uma carga inicial de 13,4 ± 2,4 kg. Além do
trabalho, que pode ser caracterizado como uma tarefa de grande demanda física,
57% dos voluntários praticam atividade física nos horários de lazer. Uma parcela
equivalente a 69% deles utilizam tênis para caminhar durante o período de trabalho,
23% calçam sapatos, apenas 4% usam os calçados fornecidos pelos Correios. Esses
dados evidenciam que 96% dos carteiros sentem-se mais confortáveis utilizando
calçados próprios. Tal fato, juntamente com o expressivo número de calos (50%) e
relatos de problemas ortopédicos na região dos pés (22%) e tornozelo (16%),podem
evidenciar uma inadequação do calçado à estrutura do pé e às características da
tarefa. Os valores da cronaxia sensitiva apresentam-se maiores do que os descritos
para adultos saudáveis e os limiares de tolerância à dor estão próximos aos descritos
para diabéticos neuropatas (SACCO, 1997). Conclusões:A sobrecarga mecânica gerada
em função das interações pé-calçado-tarefa pode ter causado alterações da estrutura
anatômica da superfície plantar, que por sua vez podem ter afetado a função
da inervação periférica dos pés. A partir dos dados referenciais obtidos pode-se
contribuir para o entendimento da interferência da função e do ambiente na regulação
da marcha de carteiros pedestres, como critério para determinação das necessidades
a serem atendidas na construção de um calçado ou de uma mochila.

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