Integra

O trabalho de animação cultural desenvolvido nos CIEPs, é uma proposta do educador Darcy Ribeiro (Ex- secretário de Estado Ciência e Cultura do governo de Leonel Brizola, 1986, Rio de Janeiro). Esta proposta possui como finalidade interagir a cultura da comunidade com o sistema formal de ensino, "procurando criar uma ponte de mão dupla entre a escola e a vida comunitária" (Ribeiro, 1986, p.134). Com isso, visa incentivar através das manifestações locais, o uso da escola como espaço democrático onde o processo educacional e a vida comunitária possam interagir, possibilitando o que vou chamar de "pensar social".

Tendo em vista a iniciativa deste projeto em falar de animação cultural como um elo de ligação entre os produtos culturais da comunidade e a escola, faz-se uso desta produção como um dos eixos educacionais, enfatizando e abrindo espaço para que essas manifestações culturais locais se situem de maneira sistemática no âmbito da Escola Pública. Nesta proposta onde a cultura e seus desdobramentos, são tratados como agentes de um processo educativo, principalmente através do tempo de lazer, é que aparece a figura do animador cultural, assim definido pelo educador Darcy Ribeiro (1986) como "pessoas comprometidas permanentemente com o fazer cultural: inquietas e instigadoras, elas são egressas de grupos de teatro, música, de poesia, de movimentos criados espontaneamente ou de associações comunitárias." (pág. 134). Essa maneira diferenciada de discutirmos o conhecimento para além dos conteúdos programáticos das disciplinas escolares e dos eventos comemorativos, aponta para uma possível ampliação da discussão em torno do assunto cultura, envolvendo nessa dinâmica educacional, a comunidade e os atores da escola (professores, alunos e agentes administrativos).

Portanto pesquisar esta forma de atuação, avaliando as suas soluções, seus percalços e seus resultados parecem ser uma forma de ampliarmos o conhecimento a respeito de animação cultural, aplicada em um espaço público formal pelo professor de Educação Física, onde temos através da cultura corporal (manifestada na dança, no esporte, no jogo, na arte dentre outras atividades) um variado acúmulo de informações que nos possibilita essa intervenção, como afirma ESCOBAR (1990) citada por SOARES et al. "A Educação Física, então, será a disciplina curricular que tratará, pedagogicamente , temas dessa cultura corporal, tendo como objeto de estudo a expressão corporal como linguagem" , voltada para um projeto de sociedade que favorecerá o papel fundamental da integração dos alunos ao seu meio social, sendo, como afirma SOARES:

"Através da prática pedagógica, dimensionada por uma teoria pedagógica calcada num projeto histórico revolucionário, que poderemos abordar com maiores possibilidades de sucesso, comteúdos, métodos e avaliação de uma educação física projetada para exigências do século XXI." ( pág. 223, 1992)

Objetivos

Logo, compreendendo a proposta teórica de animação cultural dos CIEPs do Rio de Janeiro, e suas relações pedagógicas, objetivamos: a) Realizar um levantamento das atividades desenvolvidas pelo animador cultural, e as interfaces com a Educação Física. b) Analisar os reflexos das atividades desenvolvidas pelo animador cultural na escola e na comunidade. c) Analisar a influência da animação cultural, implementada na escola, sobre o lazer comunitário e o papel do professor de Educação Física neste processo.

Enfim, procuraremos neste projeto, buscar uma relação entre as contribuições culturais da comunidade, vivenciadas em seu momento de lazer, e o processo pedagógico dos CIEP’s através do professor de Educação Física, utilizando-se das manifestações do dia-dia comunitário, como prática de educação informal, segundo CARRANO (2003) ‘’caracterizada por não se ajustar as formas institucionalmente determinadas e que de maneira geral, o seu processo educativo não se revela de forma explícita’’ (pág.17). Assim acreditamos ser, a Educação Física Escolar um dos pontos norteadores para entendermos esse processo iniciado por Darcy Ribeiro, visto todas as possibilidades contra-hegemônicas que permeiam esse componente curricular.

Metodologia

Por se tratar essa pesquisa de uma análise de um espaço educacional (CIEPs) com todos os seus desdobramentos socio-culturais, pensamos no olhar antropológico como viés, tendo na etnografia, o amparo para o que DAUSTER (1996) esclarece como sendo as "Considerações em torno do conceito de cultura, da "leitura" das relações sociais concretas e do significado delas emergente." (pág. 65).

Posteriormente teremos através do trabalho de campo (momento esse, destinado pelo pesquisador para uma maior abordagem em seu espaço geográfico de trabalho) notadamente nas caminhadas, termo esse assim definido por Magnani e citado por Melo et al (2003) como "uma atitude de deslocamento lento e atento às características e peculiaridades do espaço." (pág. 254), a possibilidade de uma análise do ambiente que estamos nos propondo a pesquisar. Seguindo esse processo, utilizaremos um questionário orientador para as entrevistas, onde analisaremos sistematicamente todos os dados coletados anteriormente fundamentados em nossa revisão literária.

Vislumbramos com isso, potencializar as contribuições da proposta pedagógica de animação cultural e suas repercussões na escola e na comunidade. Procurando compreender a influência desta proposta e entendendo a relação entre o lazer e a educação.

Referências bibliográficas

  •  Carrano, Paulo, Cezar, Rodrigues. Juventudes e Cidades Educadoras. Petrópolis-RJ: Editora Vozes (2003)
  • Dauster, Tânia. In Dayrell Juarez. Múltiplos Olhares Sobre Educação e Cultura. Belo Horizonte, MG: Ed. UFMG, 1996
  • Melo, Victor, Andrade de, et al... Lazer e Prostituição: A Vila Mimosa Como Espaço de lazer na Cidade do Rio de Janeiro - Dados de uma Observação Coletânea do IV Seminário "o Lazer em Debate". Belo Horizonte MG: UFMG / DEF / CELAR (2003)
  • Ribeiro, Darcy. O livro dos CIEPs. Rio de Janeiro. Bloch Editores S.A: (1986)
  • Soares, Carmen, Lúcia, et al... In. MOREIRA, Wagner, Wey (org.) Educação Física e Esportes: perspectivas para o século XXI. Campinas, SP. Papirus, 1992