Resumo

Apesar do distúrbio neurológico ter caráter não progressivo, as deficiências e
incapacidades da criança com paralisia cerebral diplégica espástica (PCDE) podem
mudar ao longo do tempo. O crescimento corporal dessas crianças geralmente não
é acompanhado pelo aumento progressivo das funções músculo-esqueléticas e das
capacidades motoras. Assim, pode ocorrer o desenvolvimento de compensações
funcionais ou estruturais. Como conseqüência, o comprometimento das estruturas
e funções neuro-músculo-esqueléticas influencia diretamente no ritmo da aquisição
de habilidade e na qualidade do desempenho funcional. O objetivo desse estudo foi
comparar a mobilidade funcional (MF) de indivíduos com PCDE de diferentes
faixas etárias para inferir a interferência das compensações estruturais e funcionais
durante tarefas locomotoras cotidianas. Participaram desse estudo 30 indivíduos
com PCDE, dispostos em 3 grupos etários (grupo1: 10 crianças entre 4-11anos;
grupo2: 10 adolescentes entre 12-18 anos e grupo3: 10 adultos entre 19 e 45 anos).
Utilizando a Escala de Mobilidade Funcional (EMF) (GRAHAM et al., 2004), os
participantes foram convidados a percorrer 3 distâncias diferentes: 5m, 50m e 500m,
em um ambiente previamente demarcado. A MF foi classificada como: 1 (utiliza
cadeira de rodas); 2 (utiliza andador); 3 (utiliza muletas); 4 (utiliza uma muleta ou
duas bengalas); 5 (locomoção independente em superfícies regulares); e 6 (locomoção
independente em todas as superfícies). Para a análise estatística, os dados referentes
ao resultado na EMF e ao tempo para percorrer cada distância foram analisados
por meio de 3 MANOVAS, uma para cada distância tendo o grupo de idade como
fator. A MANOVA não apontou efeito principal da EMF em 5m (F2.27=0.086;
p=0.918); 50m (F2.27=0.143; p=0.867); e 500m (F2.16=0.676; p=0.523) e de tempo
gasto em 5m (F2.27=0.874; p=0.429); 50m (F2.27=0.630; p=0.540); e 500m (F2.16=
0.996; p=0.391) em relação aos grupos etários. Estes resultados indicam que a
experiência locomotora desenvolvida com o passar dos anos não parece ser suficiente
para promover alterações na MF de indivíduos com PCDE, independente da
distância percorrida. As compensações funcionais e estruturais adquiridas não
favorecem a MF. Considerando a natureza multifatorial da desordem motora na
PCDE, fatores como as restrições no alongamento muscular, a redução da força, o
controle seletivo pobre e a espasticidade podem explicar os resultados obtidos.

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