Resumo

INTRODUÇÃO: Desde o início da pandemia, acumulam-se evidências que demonstram estreita relação de aspectos nutricionais, crescimento e desenvolvimento com a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids). Nas últimas duas décadas, a implementação da Terapia Antirretroviral Combinada (TARV) mudou significativamente esse quadro, proporcionando melhora na qualidade de vida, redução na incidência de infecções oportunistas e de recuperação de padrões normais de crescimento. Por outro lado, em consequência do tratamento, durante um longo período, uma variedade de efeitos adversos, como lipodistrofia e alterações metabólicas, tem sido identificada. OBJETIVO: avaliar a composição corporal e os fatores de risco cardiometabólicos, qualidade óssea e atividade e aptidão física em crianças e adolescentes infectados pelo HIV, em tratamento antirretroviral, em seguimento no Serviço de Imunodeficiência Pediátrica do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). MÉTODOS: Trata-se de estudo tipo corte transversal, em que foram avaliados crianças e adolescentes com idade de 7 a 20 anos, em TARV. As coletas foram realizadas em dois momentos: Os dados do capítulo 1; compreenderam o período de maio de 2008 a setembro de 2009. Foram avaliados 101 pacientes. As coletas dos capítulos 2,3 e 4 compreenderam de abril de 2012 a maio de 2014. Foram sorteados por meio de amostragem simples e avaliados 50 pacientes e 64 controles. A composição corporal foi mensurada por variáveis antropométricas e pela técnica Dual-energy X-ray Absorptiometry (DXA). A lipodistrofia foi identificada por avaliação clínica. As categorias clínicas e imunológicas da infecção pelo HIV foram definidas por critérios do Ministério da Saúde do Brasil. Foram avaliados, em jejum, por ensaios no soro, os dados metabólicos; colesterol total e frações, insulina, glicemia, Fator de Necrose Tumoral ?, Interleucina-6, leptina e adiponectina, CD4+ e carga viral. Empregou-se recordatório alimentar de 24 horas para avaliar a dieta e questionários (IPAQ-C e PAQ-C) para Atividade Física. Foram aplicados testes de aptidão física: salto horizontal, flexão e extensão do cotovelo, abdominal, flexibilidade e consumo máximo de oxigênio (VO2 máx). Foram consideradas significativas diferenças com "p" ? 0,05. RESULTADOS: No capítulo 1, as prevalências de lipoatrofia e lipohipertrofia foram de 38,29% e 40,42%, respectivamente. Observou-se associação direta entre a presença de lipoatrofia e uso atual de inibidor da protease (OR=3,17; IC95% = 1,13 - 8,89) e inversa com de níveis de leptina (OR=0,87; IC95% = 0,77 - 0,99). Os pacientes com lipohipertrofia apresentaram associação direta com a medida da Circunferência da Cintura > p90 (OR=7,63; IC95% =2,28 - 25,48), Relação Cintura/Quadril > p90 (OR=4,71; IC95% = 1,12 - 19,80) e níveis elevados de triglicerídeos (OR=3,22; IC95% = 1,13 - 9,19). Nos capítulos 2,3 e 4, a prevalência de lipoatrofia foi de 36% dos pacientes, estando associada com a menor circunferência da cintura (p=0,047), menores valores de IMC (p=0,002) e maior índice cintura/coxa (p=0,044). Ao comparar as diferenças entre grupos, os pacientes com lipoatrofia apresentaram associação com a desnutrição (p=0,008), menor gordura truncal (p=0,05), baixo percentual de gordura (p=0,022), menores medidas de circunferências: coxa (p=0,002) e bíceps (p=0,029), menor DMO total e lombar (p=0,015 e p=0,034, respectivamente). Não se observou nenhuma associação entre os ambos os grupos com a prática de atividade física e testes de força e resistência muscular localizada, flexibilidade e VO2 máx. Ao avaliar a lipohipertrofia, a prevalência foi de 22% dos pacientes. Observou-se nesta população maior percentual de gordura corporal (p=0,008), gordura no tronco (p=0,011) maior IMC (p<0,001), baixa prevalência de categoria 3 (p=0,035) e menor distância de salto horizontal (p=0,047). Todos os pacientes com lipohipertrofia apresentaram maiores valores em todos os componentes de gordura corporal em comparação aos sem lipohipertrofia (p<0,05), exceto na gordura visceral. Nenhuma associação foi encontrada entre os grupos com ou sem lipohipertrofia com a prática de atividade física e testes de força e resistência muscular localizada, flexibilidade e VO2 máx. Ao comparar o grupo HIV e controle, o grupo HIV apresentou menores medidas de percentual de gordura corporal (p=0,002), circunferência da cintura (p<0,001), relação cintura quadril (p=0,011), massa muscular (p=0,001), tempo de atividade física (p<0,001), VO2 máx (p<0,001), flexão abdominal (p=0,001) e maior gordura no tronco (p=0,004) e ingesta alimentar (p<0,001). Os pacientes na categoria clínica C apresentaram menores valores de DMO total (p=0,018) e fêmur (p=0,040). Aqueles na categoria imunológica 3 revelaram menor DMO: total (p=0,003), fêmur (p=0,045) e coluna lombar (p=0,026). Os tabagistas tiveram menor DMO na coluna lombar (p=0,007). A massa muscular de diversos segmentos corporais apresentou correlações positivas com a DMO total, do fêmur total e colo do fêmur, coluna lombar. A DMO do colo do fêmur apresentou uma correlação com a flexão e extensão do cotovelo (rs=0,400; p=0,006), salto horizontal (rS=0,475; p = 0,001), teste abdominal (rs=0,388; p=0,008) e VO2 máx (rs=0,297; p=0,053). A DMO fêmur total apresentou uma correlação positiva com a flexão e extensão do cotovelo (rs =0,491; p=0,001), salto horizontal (rs= 0,455; p=0,002), teste abdominal (rs=0,422; p=0,004) e VO2 máx (rs=0,304; p=0,047). CONCLUSÃO: Concluímos que as crianças e adolescentes infectadas pelo HIV apresentaram maior acometimento na composição corporal, estado nutricional, baixos níveis de atividade física e aptidão física. Tais achados encontrados alertam já na adolescência para um risco precoce de doenças cardiovasculares e comprometimento da qualidade óssea. Palavras-chaves: HIV; composição corporal; terapia antirretroviral de alta atividade; criança; adolescente; fatores de risco; aptidão física. 

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