Resumo

O presente estudo teve os seguintes objetivos: (a) verificar se a formação recebida pelas professoras da pré-escola capacitou-as para utilizar os Brinquedos Cantados (B.C.) como recurso pedagógico; (b) caracterizar o tipo de formação recebida na área de Educação Física pelas professoras atuantes na pré-escola; (c) constatar a concepção que as professoras do pré-escolar têm de B.C.; e (d) constatar se a ação pedagógica das professoras do pré-escolar é coerente com seu discurso. Estes objetivos foram estabelecidos tendo-se em vista orientar a presente pesquisa sobre a multifuncionalidade dos B.C.. Verificou-se a possibilidade de um redimensionamento da aplicação prática do B.C. como recurso pedagógico do processo ativo de aprendizagem e de desenvolvimento infantil. A pesquisa foi realizada em turmas de quatro pré-escolas da Rede Municipal do Rio de Janeiro situadas no Centro, Zona Norte, Zona Oeste e Ilha do Governador. Os dados coletados foram obtidos através de questionários aplicados à trinta (30) professores e através de observações realizadas diariamente durante o tempo todo de permanência da criança na escola, no período de maio de 1992 a agosto de 1993, perfazendo um total de seiscentas e setenta e cinco (675) horas de observação realizadas. Quanto à tipologia do estudo, trata-se de uma abordagem descritiva e etnográfica. Para desenvolver a pesquisa foram propostas seis (6) questões de estudo. (a) A formação recebida pelas professoras no Curso de Estudos Adicionais abordou os B.C. como um procedimento da prática pedagógica da pré-escola? (b) A formação recebida na disciplina Educação Física, do Curso de Estudos Adicionais, capacitou as professoras do pré-escolar a aplicar atividades de movimento para as crianças? (c) Qual a importância que as professoras do pré-escolar da rede municipal do Rio de Janeiro atribuem às atividades físicas? (d) Qual é a concepção que as professoras do pré-escolar da Rede Municipal do Rio de Janeiro têm da função dos B.C.? (e) A ação dos profissionais do pré-escolar da Rede Municipal do Rio de Janeiro é coerente com a concepção declarada por elas? (f) Houve ou não modificações relativas as dificuldades detectadas no período 1979-1983. Quanto à primeira questão, 74% das respostas dadas ao questionário indicaram que o Curso de Estudos Adicionais não capacitou as professoras para a utilização dos B.C. como recurso pedagógico. Esta resposta foi coerente com a observação realizada, durante a qual não foi constatada a adoção desta atividade de forma dinâmica e multifuncional. Quanto à segunda questão, tem-se que a disciplina Educação Física, do Curso de Estudo Adicionais, não capacitou as professoras para a condução de atividades de movimento. A ação das professoras mostrou-se coerente com as respostas dadas no questionário, pois das cento e cinqüenta (150) observações realizadas somente em três (2%) foram observadas atividades de movimento ministrada pelas professoras. Quanto à terceira questão, verifica-se que, em seu discurso, as professoras da pré-escola atribuem importância às atividades físicas no processo de desenvolvimento físico, cognitivo e sócio-emocional da criança de quatro a seis anos, entretanto, na sua prática pedagógica, as atividades não são oferecidas com constância. Quanto à quarta questão, verifica-se a indefinição das professoras da pré-escola sobre a função dos B.C.. Priorizaram como função dos B.C. promover a obediência e a ordem, os hábitos e as atitudes. Esta resposta está em contradição com a resposta do item 6 (Quadro 9), em que 34% das professoras assinalaram a socialização como função mais importante do B.C, ficando os 66% restantes distribuídos pelos demais aspectos. A observação realizada demonstrou coerência com a resposta ao item 4.1 (Quadro 9), que visa à obediência e à ordem. Quanto à quinta questão, foram verificadas discrepâncias entre o discurso expresso no questionário e a ação pedagógica observada no cotidiano do alunado, pois os B.C. foram descritos como muito importantes para a socialização, para o processo de desenvolvimento infantil, como componente imprescindível para as atividades físicas, todavia, as professoras não os incluíram como recurso pedagógico baseado na ação, prevalecendo uma orientação pouco ativa, tendendo a submeter o aluno à passividade. Quanto à sexta questão, verificou-se que permanecem as dificuldades constatadas no período 1979-1983. O estudo revelou outros achados. (a) O percentual de 5,5% do tempo que a criança passa na pré-escola em atividades de movimento é reduzido se levarmos em consideração as necessidades físicas do seu processo de desenvolvimento; (b) as precárias condições físicas das escolas, não oferecendo pias em quantidade proporcional ao número de alunos, obrigavam as crianças a um estado de passividade e submissão desnecessário; (c) a indefinição de uma política para o pré-escolar e a descontinuidade dos trabalhos pedagógicos, devido a mudanças de ordem política partidária que ocorrem nos governos do município do Rio de Janeiro vêm prejudicando a qualidade dos serviços prestados ao pré-escolar; (d) a dupla regência também tem comprometido a qualidade do ensino, face ao desgaste físico das professoras; (e) acentuado número de professoras não se utilizam dos B.C. como recurso pedagógico, pois associam a prática desta atividade pelas crianças, às suas próprias limitações físicas; (f) o corpo da criança é um objeto de aprendizagem sujeito a período restrito de um bimestre; (g) o curso de Formação de Professores que tinha intenção de preparar suas alunas para uma competência técnica relacionada à criança de 07 a 10 anos (1a. a 4a. série), passou a prepará-las para uma competência técnica relacionada à criança dos 03 anos aos 10 anos (pré a 4a. série), porém mantendo a mesma carga horária para um curso que aumentou sua abrangência; e (h) as professoras da rede de ensino não estão preparadas para atender as crianças portadoras de necessidades especiais, que anteriormente eram mantidas por escolas especiais para esta finalidade. Com base no que foi revelado pelo presente estudo, sumarizam-se as recomendações abordando os seguintes aspectos: (a) que os Cursos de Estudos Adicionais com aprofundamento em Pré-Escolar, sejam reformulados a fim de preparar a professora para utilização dos B.C. como recurso pedagógico, dentro de uma abordagem multifuncional; (b) que a disciplina O jogo como metodologia de aprendizagem, incluída na grade curricular do Curso de Estudos Adicionais, seja ministrada por professores de Educação Física; (c) que os documentos elaborados pela SME/RJ ofereçam efetivamente às professoras da pré-escola subsídios sobre a função dos B.C. como processo de descoberta através do lúdico; (d) que as escolas busquem meios para aumentar os espaços de troca de experiência entre as professoras, procurando promover maior coerência entre a teoria e a prática; (e) que seja feita uma revisão nas práticas quotidianas da pré-escola, na tentativa de se implantar ações pedagógicas diversificadas e dinâmicas, que dêem oportunidade às crianças de atingir uma maior mobilização física; (f) que as escolas priorizem em suas obras a construção de lavatórios em número suficiente para o atendimento dos alunos; (g) que os dirigentes governamentais tenham um compromisso político com a educação, respeitando os educadores, as crianças e suas famílias; (h) que os profissionais da educação tenham um salário digno e condizente com o seu valor para a sociedade brasileira; (i) que sejam desenvolvidos programas de capacitação e aprofundamento crítico sobre as concepções que embasam as atividades da pré-escola sobre a importância do lúdico; (j) que a administração pedagógica da escola articule as atividades em torno dos interesses do aluno, reconhecendo que o desenvolvimento da criança é feito através de ações que também propiciam à ele seu aprendizado; (l) que a formação das professoras para atender ao pré-escolar inclua estudos adicionais após a conclusão das três séries que habilitam-na para o magistério de 1a. a 4a. série; (m) que sejam oferecidos programas de capacitação e aprofundamento crítico sobre as crianças portadoras de deficiências; (n) que sejam desenvolvidos novos estudos para constatar se o percentual de 5,5% do tempo, destinado às atividades de movimento e suficiente, insuficiente ou não interfere no processo de desenvolvimento psicomotor das crianças de quatro a seis anos; (o) que sejam desenvolvidos novos estudos sobre a multifuncionalidade dos B.C., visando a uma ação diversificadora.

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