Resumo

: A espectroscopia de infravermelho próximo (NIRS) é uma tecnologia usada para mensurar o nível de oxigenação tecidual a partir da relação entre a absorbância de feixes de luz infravermelha e a concentração de hemoglobina saturada (O2Hb) e não saturada (HHb). Apesar do seu uso frequente em contextos clínicos, há uma falta de estudos demonstrando a confiabilidade desta tecnologia em acessar a oxigenação tecidual cerebral (OXC) e muscular (OXM) durante o exercício físico. Por exemplo, há uma carência de estudos que possam confirmar que esta tecnologia é capaz de prover medidas confiáveis das alterações de OXC e OXM em função do aumento da intensidade de exercício.

Objetivo: O objetivo deste estudo é investigar a confiabilidade da medida de OXC e OXM acessada por NIRS em teste incremental máximo (TIM).

Método: Nove ciclistas experientes em modalidades de endurance (> 3 anos de ciclismo competitivo; 32,9 ± 7,3 anos, 75,9 ± 9,0 kg, 175,7 ± 5,9 cm) e com experiência em TIM realizados em ciclo-ergômetro, participaram do estudo. Os testes foram realizados em duas visitas, com intervalo de 7 dias entre elas. O teste consistiu em um aquecimento padronizado de 7 minutos, seguido de aumento progressivo na intensidade de 25 W·min-1 até a exaustão, identificada na incapacidade de manter a cadência alvo no pedal (80 rpm). A OXC e OXM foi mensurada continuamente (25 Hz) por todo o TIM, por meio de optodos fixados no córtex pré-frontal (CPF) na posição Fp1 e no ventre muscular do músculo vasto lateral (VL). Alterações micromolares (µM) nas concentrações de O2Hb e HHb e hemoglobina total (HBT) no CPF e músculo VL foram calculadas como a média dos últimos 10 s de cada 10% da duração total do teste, após filtragem (passa-baixa de 0,4 Hz) e down-sampling para 1 Hz. Os dados de O2Hb e HHb foram expressos como delta de alteração (∆µM) em relação ao sinal obtido em repouso absoluto (2 min), antes do início do TIM. A confiabilidade relativa foi calculada a partir do coeficiente de correlação intraclasse (CCI(2,k)) e classificada como baixa (>0,5), moderada (0,5-0,75), boa (0,75-0,90) e excelente (>0,90) confiabilidade. A confiabilidade absoluta foi calculada a partir do EPM, e expressa em sua medida original.

Resultados: As medidas de CCI(2,k) em todas as variáveis de OXC e OXM foram classificadas com baixa confiabilidade. O EPM da OXM variou de 56,1 ∆µM à 1523,3 ∆µM em todos os índices de NIRS, enquanto no CPF foi de 243,5 ∆µM a 2189.3 ∆µM. A mínima diferença detectável (MDD) nos índices de OXM apresentou uma variação de 155,1 a 4209,9 ∆µM, enquanto nos índices de OXC foi de 672,8 ∆µM a 6050,4 ∆µM. No geral, os resultados indicaram que a confiabilidade absoluta nos índices de OXC e OXM foi baixa, com erro progressivo à medida que a intensidade de exercício aumentou. A tabela 1 mostra os valores de confiabilidade relativa e absoluta em cada índice de OXC e OXM.